A obra é um misto de livro ilustrado e graphic novel |
A história se passa nas Black Cuillins, Ilha de Syke, paisagem que o escocês Campbell conhece muito bem e fascinou Gaiman. A obra é um misto de graphic novel e livro ilustrado, em que texto e imagens conversam muito bem para criar o clima sombrio da narrativa.
O pai é um anão que contrata um ladrão como guia até a caverna onde espera encontrar a verdade sobre o desaparecimento da filha. Por não encontrar equivalente em português, Augusto Calil, tradutor do texto, optou por manter a expressão border reaver em inglês para o personagem que, há séculos, assaltava indistintamente ingleses e escoceses nas fronteiras entre os dois países.
A viagem é úmida, sombria e perigosa. A relação entre os dois homens é tensa e desconfiada: um não está certo das respostas que vai encontrar, outro pensa no ouro guardado na caverna. Aqui Gaiman se apropria do modelo de jornada por territórios pouco conhecidos, envoltos em névoas e nuvens, reunindo uma dupla improvável de um anão cheio de segredos e um ladrão movido pela ambição.
O desfecho me lembrou o enredo das pulp fictions dos anos 1940 e 1950, reproduzidas em revistas como Weird Tales e Cripta, no Brasil. Mas a narrativa é boa, tanto o texto de Gaiman quanto o visual das ilustrações de Campbell. Vale a leitura.
Valeria mais ainda assistir a performance de Gaiman. Ele tem feito leituras do conto em teatros com projeção das ilustrações de Campbell (as do livro e outras inéditas), ao som do quarteto de cordas australiano FourPlay, que conta em seu repertório com o tema do seriado Doctor Who. Gaiman é um excelente narrador, como pude conferir em sua leitura de O oceano no fim do caminho.
A verdade é uma caverna nas montanhas negras foi lançado no Brasil pela Intrínseca em uma bem cuidada edição de 80 páginas com capa dura. Custa R$ 34,90 na versão impressa e R$ 19,90 na eletrônica.