domingo, 21 de junho de 2015

Onde foram parar os discos voadores?

O livro questiona várias crendices
Os alienígenas parecem ter ficado tímidos com a ameaça à sua discrição e privacidade. Hoje há mais celulares do que gente no Brasil. Nem todos são smartphones, mas a maioria tem câmeras. Brasileiros adoram fotografar e compartilhar imagens, mas, apesar de toda essa facilidade de capturar um flagrante, ninguém ainda fez uma boa imagem de um objeto voador não identificado. Uma foto clara e incontestável. 

OVNIs e abduções são um dos temas abordados em Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas, do psicólogo e historiador da ciência norte-americano Michael Shermer. Na obra, o autor conta como começou escrevendo para uma revista sobre ciclismo, tornou-se praticante do esporte e passou a seguir várias receitas "infalíveis" para melhorar a competitividade como atleta.

Logo Shermer se deu conta da superficialidade das soluções milagrosas e abraçou a convicção de que apenas o questionamento e experimentação praticados pelo método científico merecem credibilidade. Segundo ele, muitas crenças atraem estudantes de escolas não reconhecidas para fundamentar suas teorias a partir de ideias que não têm amparo em estudos.

Shermer tornou-se um ardoroso defensor da ciência e do ceticismo. Fundou a Skepcit Magazine e a associação do mesmo nome, que promove encontros e palestras. Pesquisador e professor universitário, Shermer ainda participa de debates em programas sensacionalistas de TV. Nessas situações, acaba se expondo a toda sorte de teorias bizarras, algumas delas assunto de Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas.

A obra dedica um bom espaço para a discussão de temas como a tentativa de impor o ensino do criacionismo em escolas nos EUA, ou proibir professores de falar sobre a Teoria da Evolução de Darwin para seus alunos. O debate é antigo, chegou aos livros, filmes e à Justiça, e continua aceso. Outro tema que recebe muita atenção é a sugestão de grupos organizados de que o Holocausto não ocorreu nas proporções amplamente documentadas.

Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas explora poucos temas associados à questão levantada pelo título, mas responde a pergunta. E demonstra como questionar episódios fantásticos ou sobrenaturais. Quem quiser avançar nesse questionamento, pode partir para obras como O mundo assombrado pelos demônios, de Carl Sagan. 

domingo, 14 de junho de 2015

Amizade e amor à natureza

Um clássico sobre amizade e amor à natureza
Mary Lennox é uma menina de dez anos de idade mimada e arrogante, criada na Índia, um ambiente físico e cultural muito distinto da origem de seus pais ingleses. Quando eles morrem, ela é enviada de volta para o interior da Inglaterra, onde começa uma história de amizade, fantasia e amor à natureza.

A aridez e a solidão da vida no Oriente vão sendo gradativamente substituídas por amigos que Mary nunca havia tido, plantas e jardins. Um deles é secreto, fechado e esquecido há dez anos. O mistério intriga a menina, que ganha a ajuda de um tordo. O passarinho passa a acompanhá-la e dar dicas. Mary ainda conhece Dickon, irmão de Martha, empregada da mansão do tio. O menino, dois anos mais velho, tem a amizade de animais silvestres, como um corvo, uma raposa e dois esquilos. 

Escrito pela inglesa Frances Hodgson Burnett e lançado em 1911, O jardim secreto é considerado o primeiro livro a trazer crianças como protagonistas. A história tornou-se um clássico, e foi adaptada para o cinema em 1993. Jardim secreto voltou à lista dos mais vendidos nas últimas semanas, mas esse é o título de um livro com ilustrações em preto e branco para ser pintado com lápis de cor.

Por mais que os livros para colorir para adultos tenham se tornado uma febre, porém, eles não superam a magia de O jardim secreto. Nem o fato de não haver um real vilão, todos serem muito generosos e o desfecho se anunciar absolutamente previsível. O título é classificado como um livro infantojuvenil, mas não há mal nenhum em, de vez em quando, ler um texto que exalte a inocência e a amizade.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Fantasmas reais

A autora inspirou de Neil Gaiman a Stephen King

Shirley Jackson tornou-se conhecida por conta de sua novela The haunting of hill house, traduzida como Assombração da casa da colina. Publicada em 1959, foi adaptada para o cinema em 1963 e 1999. Narra a história de pessoas reunidas em uma casa com reputação sobrenatural por um pesquisar que quer investigar fenômenos aparentemente inexplicáveis, até que cosias começam a acontecer. Um roteiro explorado muitas vezes, em outros livros e filmes.

The lottery reúne 25 contos, incluindo o que dá título à antologia. São histórias sem fantasmas, monstros ou eventos sobrenaturais. Talvez por isso, mais assustadoras. O mal não vem de fora, está no próprio ser humano, capaz de atitudes cruéis. Não há violência física entre os personagens, mas opressão psicológica por vezes apenas sugerida, mas que cria uma atmosfera de opressão.

Uma curiosidade é que todos os contos giram em torno de mulheres. Solidão, abandono, dúvida, preconceito e machismo se revezam ao redor das protagonistas. Em um diálogo, a jovem grávida recém-casada argumenta: “Penso que um casamento bem-sucedido é responsabilidade da mulher.”

Em algum momento, as tramas são quase repetitivas, fazendo de Nova York um cenário que pode ser fascinante, mas também opressivo. Um dos contos, porém, até agora foi a melhor descrição de um ataque de síndrome do pânico que já li. A autora cria uma forte empatia com a personagem, mas você não pode fazer nada por ela.

Shirley Jackson morreu cedo, aos 48 anos, em 1965. The lottery, o conto mais perturbador dessa antologia, foi publicado originalmente na revista The New Yorker, em 1948. Causou uma repercussão enorme no público, o que levou a autora a publicar uma resposta, um mês depois:

“Explicar exatamente o que eu esperava com a história é muito difícil. Imagino que, definindo um rito antigo particularmente brutal no presente e em meu próprio vilarejo, chocaria os leitores com uma dramatização gráfica da violência sem sentido e desumanidade geral em suas próprias vidas.”