sexta-feira, 5 de junho de 2015

Fantasmas reais

A autora inspirou de Neil Gaiman a Stephen King

Shirley Jackson tornou-se conhecida por conta de sua novela The haunting of hill house, traduzida como Assombração da casa da colina. Publicada em 1959, foi adaptada para o cinema em 1963 e 1999. Narra a história de pessoas reunidas em uma casa com reputação sobrenatural por um pesquisar que quer investigar fenômenos aparentemente inexplicáveis, até que cosias começam a acontecer. Um roteiro explorado muitas vezes, em outros livros e filmes.

The lottery reúne 25 contos, incluindo o que dá título à antologia. São histórias sem fantasmas, monstros ou eventos sobrenaturais. Talvez por isso, mais assustadoras. O mal não vem de fora, está no próprio ser humano, capaz de atitudes cruéis. Não há violência física entre os personagens, mas opressão psicológica por vezes apenas sugerida, mas que cria uma atmosfera de opressão.

Uma curiosidade é que todos os contos giram em torno de mulheres. Solidão, abandono, dúvida, preconceito e machismo se revezam ao redor das protagonistas. Em um diálogo, a jovem grávida recém-casada argumenta: “Penso que um casamento bem-sucedido é responsabilidade da mulher.”

Em algum momento, as tramas são quase repetitivas, fazendo de Nova York um cenário que pode ser fascinante, mas também opressivo. Um dos contos, porém, até agora foi a melhor descrição de um ataque de síndrome do pânico que já li. A autora cria uma forte empatia com a personagem, mas você não pode fazer nada por ela.

Shirley Jackson morreu cedo, aos 48 anos, em 1965. The lottery, o conto mais perturbador dessa antologia, foi publicado originalmente na revista The New Yorker, em 1948. Causou uma repercussão enorme no público, o que levou a autora a publicar uma resposta, um mês depois:

“Explicar exatamente o que eu esperava com a história é muito difícil. Imagino que, definindo um rito antigo particularmente brutal no presente e em meu próprio vilarejo, chocaria os leitores com uma dramatização gráfica da violência sem sentido e desumanidade geral em suas próprias vidas.”

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