domingo, 21 de abril de 2019

PollyannaPollyanna by Eleanor H. Porter
My rating: 2 of 5 stars

Ver-me sem nada para ler e com um livro gratuito no celular me levou a matar a curiosidade sobre a origem da expressão "ser Poliana". Bom, sabia que a origem era o livro "Pollyanna", nome de uma garotinha que exala otimismo. Mas ler o livro infantil de Eleanor H. Porter é diferente, uma experiência que não me agradou.
Gosto de vez ou outra ler um livro infantil ou infanto-juvenil, mas "Pollyanna" ficou abaixo de minhas expectativas. O "jogo" da menina órfã, de procurar o lado positivo nas piores situações e atitudes, mais do que justifica a fama da obra, a origem da expressão e as muitas adaptações feitas para TV, teatro e cinema. Mas achei o livro ruim. Pollyanna transita em um mundo de adultos amargurados e ressentidos, muitas vezes por se comportar de maneira mais infantil do que a menina. Com sua visão inocente, ela acaba sendo a mais madura em várias situações.
A autora emenda uma cena em outra para que Pollyanna chame as pessoas ao bom senso. Em mais de uma passagem, dá saltos de continuidade quando parece querer resolver logo uma situação e passar para outra. E termina a história de maneira abrupta.
Enfim, "Pollyanna" tem suas lições de moral e muita pieguice. Nada que minha avó não resumiria em uma frase quando eu não estava disposto a comer alguma coisa: "Pense em quantas crianças não tem nem isso para comer."


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sábado, 20 de abril de 2019

Outubro: História da Revolução RussaOutubro: História da Revolução Russa by China Miéville
My rating: 5 of 5 stars

O que leva um escritor de ficção-científica à aventura de escrever sobre a maior revolução socialista da história? É fácil entender quando se conhece um pouco mais sobre China Miéville. O inglês não é apenas um criativo autor de ficção weird, ou bizarra, mas também professor, acadêmico, político e militante de esquerda.

A partir de extensa documentação e bibliografia, em "Outubro: História da Revolução Russa" Miéville repassa os episódios a partir de abril de 1917, quando o czar Nicolau II é levado a renunciar diante da revolta de vários setores da sociedade - e seu irmão Miguel recusa-se a assumir em seu lugar. Seguem-se os capítulos que levam os nomes dos meses até outubro, quando os bolcheviques finalmente assumem o poder na Rússia.

Como em "Dez dias que abalaram o mundo", de John Reed, o autor relata o que acontece nas ruas e no interior de salões esfumaçados. Formam-se comitês de trabalhadores, soldados e representantes de diferentes etnias e de regiões remotas da Rússia. É um período absolutamente conturbado, em que o poder é disputado por várias correntes políticas e ao menos uma importante tentativa de contrarrevolução. No lado externo , o país sofre e perde centenas de milhares de soldados nas frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial.

As semanas e meses se arrastam, com passeatas e manifestações mais ou menos violentas, encontros, reuniões, assembleias e conspirações. A violência política, a criminalidade e a fome avançam. Mas há registros pitorescos, como o relato sobre Lenin disfarçado com peruca e roupas de bêbado para evitar ser preso - ou pior - nas mãos de inimigos políticos, o poderoso cruzador Aurora impossibilitado de disparar em um momento crítico na revolução por falta de munição ou ainda uma decisiva lanterna vermelha que ninguém consegue encontrar.

"Outubro: História da Revolução Russa" resume um período fascinante da história. Como em "Dez dias que abalaram o mundo", de John Reed, muito se passa no interior de grandes salas e reuniões intermináveis, envolvendo muitos personagens. Longos trechos do relato se arrastam de um comício para uma assembleia e de lá para o encontro de um comitê. Mas não dá para parar de ler, ainda que o desfecho seja conhecido há um século.

Ajuda muito no fluxo da leitura o livro trazer ainda uma breve biografia de homens e mulheres que desempenharam diferentes papéis na disputa pelo poder, fotos de alguns dos protagonistas da revolução e extensa bibliografia para quem quiser se aprofundar no assunto.

Obra indispensável para conhecer esse período da história.

Em tempo: não consegui achar o livro impresso em várias livrarias (não cheguei a procurar em sebos). Mas a obra publicada pela editora Boitempo, com tradução de Heci Regina Candiani, está disponível no formato eletrônico.


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sábado, 6 de abril de 2019

Malagueta, Perus e BacanaçoMalagueta, Perus e Bacanaço by João Antônio
My rating: 5 of 5 stars

Alguém pode afirmar que conhece de fato a cidade onde vive? Saiu de seus caminhos e destinos habituais para conhecer os bairros de má reputação, a pobreza, a miséria conhecida apenas pelo noticiário da TV, as pessoas com as quais não se quer cruzar na calçada, aquelas que em grupos num shopping viram notícia?

Pois é uma São Paulo assim que João Antônio revela em "Malagueta, Perus e Bacanaço". Em nove contos, o livro acompanha a vida dos desfavorecidos, vagabundos e malandros da cidade no fim dos anos 1950 e início da década de 60. O autor usa a linguagem da periferia e a gíria da malandragem com propriedade, pois ele mesmo esteve muito próximo de seus personagens. Frequentou salões de sinuca onde se misturavam os "otários" que perdiam dinheiro para os jogadores de sinuca cheios de picardia, desocupados, prostitutas, alcoólatras e policiais corruptos.

João Antônio descreve uma São Paulo romântica, iluminada por lâmpadas de luz amarelada, onde "carros de preço" nem fazem parte da ambição dos operários de baixo salário e desocupados. A alternativa é andar, caminhar muito. Ou, quando as coisas estão melhores, pegar um "carro de praça". E o leitor é levado junto, por bairros conhecidos e ruas suspeitas de uma cidade onde as drogas da época eram a cachaça e a maconha, que deixava as pessoas "loucas".


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