sábado, 11 de agosto de 2018

A letra escarlate

O clássico lançado em 1850 teve adaptações para o cinema
Logo nas páginas iniciais de "A letra escarlate", Hester Prynne é indultada da pena de morte em troca de ser exposta por algumas horas à execração pública em um pelourinho, antes de ir para a cadeia na cidade de Salem, no século 17. O crime pelo qual é acusada é o adultério.

Hester, uma bela mulher, tem uma criança nos braços durante o interrogatório do clero da cidade, um assentamento de puritanos. Exigem que ela revele o nome do pai da menina, uma vez que seu marido está desaparecido há anos. A jovem recusa-se a dizer, e é 
presa.

Recebe a visita de um médico na prisão, a quem também não revela o nome. O homem anuncia que vai descobrir quem é o responsável pelo adultério, e jura vingança. Hester e sua filha, que recebe o nome de Pearl, são liberadas da prisão meses depois, e banidas da cidade. A jovem ainda deve usar a letra A vermelha pregada sobre o peito.

"A letra escarlate" que dá nome à obra é um A vermelho que remete a adúltera. Hester torna-se exemplo do pecado, um comportamento a não ser seguido, vergonha a ser evitada, objeto de olhares de reprovação. Vive isolada com sua filha em uma casa abandonada e afastada, e costura para os habitantes da cidade como subsistência.

Pearl vai crescendo, apresenta sinais de grande talento para aprender e começa a questionar a mãe sobre o A vermelho no peito. Um dos momentos mais tensos da narrativa é quando os líderes políticos e religiosos da cidade querem tirar a guarda da menina de Hester. O reverendo Arthur Dimmesdale intervém com uma forte argumentação teológica, e mãe e filha voltam juntas para casa.

Discursos, teologia e moralismo, aliás, marcam esse livro lançado em 1850. Foi um enorme sucesso de vendas, considerado um clássico da literatura, para alguns a melhor obra dos Estados Unidos. Nathaniel Hawthorne, ele mesmo um puritano, era neto de um dos juízes que participaram do julgamento do caso que ficou conhecido como "As bruxas de Salem". Seu texto é típico da literatura norte-americana do século 19, com longas descrições e poucos diálogos.

Na obra, o autor elabora extensas reflexões sobre questões morais, filosóficas, religiosas e comportamentais. O tema central é sempre o pecado, a culpa. O clima é de melancolia, e os três principais personagens adultos sofrem com seus fantasmas. Pela profundidade  das ideias e dos protagonistas, "A letra escarlate" é considerado um livro precursor do romance psicológico.

Falar em fantasmas na obra de Hawthorne, aliás, não é mera figura de linguagem. Há um toque de fantástico na aparição de um meteoro com o formato da letra A, uma doença misteriosa, suspeitas de experiências demoníacas, mulheres com aspecto de bruxas e um homem de negro com um livro sob o braço que vaga pela floresta. Cenas noturnas e situações sombrias temperam a trama.

Hester fica à margem da sociedade entre 1642 e 1649, quando sua sina começa a caminhar para um desfecho. A história ganha um ritmo de aventura que precede a grande revelação.

Nathaniel Hawthorne foi autor também de muitos contos e romances, como "O fauno de mármore" e o gótico "A casa das sete torres". A edição mais recente de "A letra escarlate" no Brasil saiu pelo selo Penguin Companhia, da Companhia das Letras. Há também uma edição de bolso da Best Seller.