quarta-feira, 29 de abril de 2020

Bob & Harv - Dois Anti-Heróis AmericanosBob & Harv - Dois Anti-Heróis Americanos by Harvey Pekar
My rating: 4 of 5 stars

Parceria entre dois artistas do underground que resultou numa das melhores fases da revista American Splendor. Harvey Pekar trabalhava como arquivista em um hospital de Cleveland (EUA) e faturava alguns trocados negociando discos raros de jazz, sua paixão. Propõe ao cartunista Robert Crumb desenhar suas histórias, algumas reunidas nessa publicação sobre "dois anti-heróis americanos".

Se o traço de Crumb se caracteriza pelo estilo psicodélico e surrealista, os roteiros de Pekar são lacônicos e retratam situações absolutamente banais do cotidiano. Os dois artistas fazem parte de várias histórias, envolvidos com personagens curiosos e pessoas da contracultura. Tem narrativa que termina quando mal começou, o que faz pensar: "Mas não é assim mesmo?"


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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Eu Sou a LendaEu Sou a Lenda by Richard Matheson
My rating: 4 of 5 stars

Tinha curiosidade de conhecer a origem de um filme que vi na TV há muitos anos – "A última esperança da Terra". Gostei do filme, mas a cena final me desagradou. A trama ganhou uma terceira versão para o cinema com Will Smith e Alice Braga, em 2007, com o mesmo título do livro. Interessante.

"Eu sou a lenda" foi lançado em 1954 e mistura terror com ficção científica. Como é comum nesses gêneros, explora os medos mais profundos do ser humano, como a solidão e o desconhecido. Robert Neville é, aparentemente, o único sobrevivente de uma peste que transformou as pessoas em vampiros.

Neville vive em um casa fortificada e investe a luz do dia, período em que pode circular com segurança, na busca por explicações para a epidemia. É aí que a trama de Matheson se torna cansativa em muitas passagens, na tentativa de explicar aspectos do mito do vampiro, como o medo da cruz e a repulsa ao alho. O autor poderia ter deixado Drácula de lado para desenvolver sua própria narrativa.

Com uso do discurso indireto livre Matheson envolve o leitor na angústia da solidão e falta de perspectiva de Neville, o ponto alto da obra. O autor também é hábil ao criar uma tensão permanente nas passagens em que Neville está exposto – e pode ser enganado por um relógio quebrado quanto à hora de se proteger – ou mesmo dentro de sua casa.

A edição da Aleph teve tradução de Delfin, é ilustrada com vinhetas elegantes e conta com um bom artigo de Mathias Classen, professor da Universidade de Aarhus, Dinamarca. Há ainda uma breve entrevista concedida por Matheson na época de lançamento da última adaptação de sua novela para o cinema

Richard Matheson teve uma extensa obra como escritor de romances, contos e roteiros. São dele histórias conhecidas como "O incrível homem que encolheu", "Em algum lugar do passado", episódios de Além da Imaginação e Jornada nas Estrelas. "Hell House" ("A casa infernal", no Brasil) também foi levado ao cinema, mas em nada acrescenta a "The Haunting of Hill House" ("A Maldição da Residência Hill"), novela publicada por Shirley Jackson 12 anos antes.

Destaco o conto "Duel", que serviu de base para o roteiro de "Encurralado", primeiro filme feito por Steven Spielberg para a televisão. Mais uma vez, o tema da angústia de um homem sozinho diante da violência mortal e inexplicável.


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terça-feira, 14 de abril de 2020

Billie HolidayBillie Holiday by Carlos Sampayo
My rating: 4 of 5 stars

Breve biografia em quadrinhos, desenhada por José Antonio Muñoz, com argumento de Carlos Sampayo, ambos argentinos. Traço em preto e branco resume a ascensão e momentos mais difíceis da vida de Billie Holiday.

Li em uma edição antiga da L&PM, mas há uma edição de 2017 da Editora Mino.


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Car TalesCar Tales by Jane Gottlieb
My rating: 5 of 5 stars

Edição de 1991 com fotos de Jane Gottlieb e prefácio do ex-piloto Mario Andretti. Mas vale mesmo é pelos cinco contos, de F. Scott Fitzgerald, Jack Finney, MacKinlay Kantor, William Saroyan e Arthur Conan Doyle. O tema central é a paixão pelo automóvel nas primeiras décadas do século 20.


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sábado, 11 de abril de 2020

O Amor NaturalO Amor Natural by Carlos Drummond de Andrade
My rating: 5 of 5 stars

Carlos Drummond de Andrade até permitiu que algumas pessoas lessem seus poemas eróticos quando ainda estava vivo. Alguns saíram em revistas masculinas nos anos 1970, mas a maior parte, a seu pedido, foi publicada apenas após a sua morte.

"O Amor Natural" é uma obra surpreendente de Drummond. Fala de sexo com leveza e sensibilidade, sem deixar de ser quase explícito em muitos versos. O livro tem belas ilustrações de Milton Dacosta, e um posfácio em que Affonso Romano de Sant'Anna discute a tênue linha entre o erótico e o pornográfico.

Se era esse o receio de Drummond de ver a obra publica em vida, não precisava. Trata-se apenas de amor natural.


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terça-feira, 7 de abril de 2020

Coração das trevasCoração das trevas by Joseph Conrad
My rating: 5 of 5 stars

A viagem de uma embarcação ao longo do rio Congo traça um terrível retrato dos efeitos do colonialismo europeu no continente africano. Charles Marlow, capitão do velho navio a vapor, é encarregado do resgate de Kurtz, um comerciante de marfim quase mítico isolado centenas de quilômetros rio acima. Lenta e cheia de dificuldades, a jornada vai adentrando a selva sombria, e os recantos mais escuros do ser humano.

Narrado por Marlow, com raros diálogos e longas reflexões, "Coração das Trevas" é um romance curto e impressionante. A narrativa publicada em 1899 foi transposta 80 anos no futuro, e adaptada do cenário da selva no Congo para a guerra do Vietnã pelo cineasta Francis Ford Coppola no filme "Apocalypse Now".

Li "Coração das Trevas" na edição da Ubu Editora, com tradução de Paulo Schiller e quase metade das 226 páginas com belíssimas intervenções artísticas de Rosângela Rennó. A edição tem ainda posfácio de Bernardo Carvalho e textos de Paulo Mendes Campos, Virginia Woolf e Walnice Nogueira Galvão.


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