sábado, 29 de dezembro de 2018

The House on the BorderlandThe House on the Borderland by William Hope Hodgson
My rating: 2 of 5 stars

Leitura vale como curiosidade, uma vez que inspirou autores como H. P. Lovecraft e Terry Pratchett. Mistura de ficção científica, horror e fantasia, inovou no que se tornou conhecido como "horror cósmico", muito explorado mais tarde por autores como Clark Ashton Smith e o próprio Lovecraft.
Mas se perde quando o manuscrito encontrado por dois aventureiros em uma remota, esquecida e decadente mansão sai do relato do encontro hostil com seres alienígenas para uma viagem pelo universo. A longa descrição dessa jornada pelo tempo, espaço e diferentes dimensões é, em muitos trechos, um delírio astronômico repetitivo e enfadonho.
Personagens como a irmã e um antigo amor do anônimo autor do manuscrito têm participação dispersa. Enfim, um texto por vezes confuso em que, sem aviso, pode surgir um alienígena, uma mulher ou um animal de estimação ainda não apresentado ao leitor.


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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O Dia de ÂngeloO Dia de Ângelo by Frei Betto
My rating: 4 of 5 stars

Um romance quase didático do frade dominicano e escritor conhecido como Frei Betto. Didático porque retrata sob o manto da ficção o que se passava nas prisões políticas durante o período mais duro da ditadura militar no Brasil, nos anos 1970.
Privação da liberdade, tortura, a discordância entre as linhas de atuação da esquerda, a paranoia do anticomunismo, os acertos entre políticos e militares, os grupos econômicos de interesse. Todos esses aspectos são contemplados nesse romance curto publicado em 1987 pela extinta Brasiliense. Merece e precisa ser lido por sua atualidade.


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Crooked HouseCrooked House by Agatha Christie
My rating: 3 of 5 stars

Agatha Christie dizia que "A casa torta" era um de seus romances preferidos. É também o escolhido entre os melhores para alguns fãs da autora. Entre ouras curiosidades, não conta com a participação do célebre detetive belga Hercule Poirot, nem com Miss Marple.
Mas é uma novela policial com as principais características da autora. Um crime, um grupo de pessoas que podem tê-lo cometido. A originalidade, em "A casa torta", fica por conta de a investigação ficar a cargo da Scotland Yard, mas com participação especial de um dos envolvidos na trama - ainda que de forma indireta.
Todo cuidado nesse comentário é pouco para não estragar a surpresa dos leitores na leitura dessa trama, cuja publicação completa 70 anos agora em 2019. Mas praticamente todos que poderiam ter cometido o crime não tinham motivo para isso. Há toques de sarcasmo com relação a comunistas, católicos e mesmo Sherlock Holmes. E a solução do caso é ousada e surpreendente.


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domingo, 16 de dezembro de 2018

The Eggs from Lake Tanganyika: A Short Science Fiction StoryThe Eggs from Lake Tanganyika: A Short Science Fiction Story by Curt Siodmak
My rating: 4 of 5 stars

Um conto de ficção científica cheio de clichês, mas certamente a origem de situações que inspiraram livremente escritores e roteiristas por décadas.
Alemão de nascimento, Curt Siodmak antecipou muito o cine-paranóia que iria se tornar comum na década de 1950. Já em 1926, ano de seu lançamento, "Os ovos do lago Tanganyka" (minha tradução livre) traz o pânico diante a ameaça de moscas gigantescas.
Não é spoiler, elas estão na capa do conto!


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Black Dog: Os Sonhos de Paul NashBlack Dog: Os Sonhos de Paul Nash by Dave McKean
My rating: 5 of 5 stars

Nenhuma guerra é bonita, mas este livro é uma bela obra. Dave McKean parte das pinturas e textos do artista inglês Paul Nash - que esteve no front como soldado e depois oficial artista - para criar um resgate sombrio da Primeira Guerra Mundial. 2018 marca o centenário do fim do conflito.


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sábado, 15 de dezembro de 2018

Um retrato cru e feminino da guerra


Mulheres ucranianas das forças de resistência na antiga União Soviética

Esqueça aquelas imagens de guerra que são mostradas na TV, exibindo explosões a distância, ou sequências estilo videogame em que algum prédio é enquadrado por um avião a grande altitude, e o alvo vira fumaça nas imagens em baixa definição. A guerra revelada por Svetlana Aleksiévitch está mais próxima das campanhas por fundos da Cruz Vermelha ou dos Médicos sem Fronteira.

Mais do que isso, a jornalista e escritora bielorrussa mostra o ponto de vista das mulheres na Segunda Guerra Mundial. Cerca de um milhão delas, muitas ainda adolescentes, foram convocadas ou buscaram alistamento, e não raro brigaram para se juntar ao Exército Vermelho e às forças de resistência contra a invasão do exército nazista.

"Quando as mulheres falam, não aparece nunca, ou quase nunca, aquilo que estamos acostumados a ler e escutar: como umas pessoas heroicamente mataram outras e venceram. Ou perderam. Qual foi a técnica e quais eram os generais. Os relatos femininos são outros e falam de outras coisas. A guerra 'feminina' tem suas próprias cores, cheiros, sua iluminação e seu espaço sentimental. Suas próprias palavras. Nelas, não há heróis nem façanhas incríveis  Há apenas pessoas ocupadas com uma tarefa desumanamente humana", escreve a autora. 

Svetlana, que ainda não havia nascido à época da guerra, intercala reflexões sobre o papel da mulher no conflito, e seu impacto na sociedade em geral. Motivadas por vingança de pais e irmãos mortos logo no começo da invasão e pelo senso de dever de proteger seu país contra os fascistas, como chamam a todo momento, as mulheres eram quase que invariavelmente rejeitadas por superiores, por paternalismo ou por não acreditarem que dariam conta.

Mas elas cumpriram rigorosamente todas as atividades militares, incluindo as que envolvem grande força física, como tirar um homem ferido de dentro de um tanque em chamas e arrastá-lo ao longo de horas pelo campo de batalha. Em outros momentos, confessam sua feminilidade, a saudade de se maquiar, vestir e usar joias.

população civil não foi poupada pela violência da guerra. Atrocidades, tortura e assassinatos afetaram não-militares, incluindo idosos e crianças. Parte das pessoas passou a integrar o movimento de resistência, mantendo vínculos nas cidades e vilarejos. Atuavam como mensageiros, na observação e anotação de movimento e abastecimento de tropas.

Fruto de centenas de entrevistas e anos de trabalho, A guerra não tem rosto de mulher foi publicado em 1983, mas ganhou notoriedade internacional quando a obra de Svetlana ganhou o Nobel de Literatura em 2015. Através da Companhia das Letras, sua obra tornou-se conhecida e sucesso entre os leitores do Brasil.

Não espere um texto primoroso. Svetlana escreve bem, mas o valor de sua obra é o resgate sem filtros da memória dessas muitas mulheres por meio das entrevistas. Os relatos em geral são breves, alguns pouco mais longos, praticamente sem edição da autora, que se limita a incluir alguns pensamentos e impressões.

Mas prepare-se para um livro forte e emocionante. Há sequências duras, em que o que se vê de longe pela TV é mostrado de muito perto. Alguns episódios são especialmente trágicos, e as descrições dos efeitos dos bombardeios e dos combates corpo a corpo são impressionantes. As testemunhas da época descrevem, e quase é possível ouvir o som de ossos quebrando.

Seis histórias menos horríveis que o trânsito

Classic Tales of Horror and SuspenseClassic Tales of Horror and Suspense by Arthur Conan Doyle
My rating: 3 of 5 stars

Seis histórias clássicas de quatro autores consagrados no gênero. A gravação e a qualidade dos narradores são impecáveis, e a sonoplastia é muito rica e adequada ao clima com que se pretende cercar as narrativas.
Os senões são algumas histórias estarem resumidas, e os títulos das novelas e contos não estarem presentes nas gravações.
Bom entretenimento para ouvir no trânsito.


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On the road na França

Satori em ParisSatori em Paris by Jack Kerouac
My rating: 4 of 5 stars

Aos 44 anos de idade, Jack Kerouac viaja a Paris e à Bretanha em busca de suas raízes de família. Lança mão de seu francês da infância em busca de documentos, registros oficiais e no contato com o submundo da França.
Kerouac sendo Kerouac, em um breve, movimentado e divertido diário de viagens: física, turística e de autodescoberta.


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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Aventura juvenil, sofrimento adulto



Obra de Richard Adams é das mais populares na Inglaterra

É uma história parecida com a do seu conterrâneo J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O senhor dos anéis. Richard Adams começou a contar histórias envolvendo coelhos para suas filhas, e por insistência das meninas colocou os relatos no papel para se tornar um dos escritores mais populares da Grã Bretanha.

Sua obra de maior sucesso é Watership Down, traduzida no Brasil para A longa jornada. Um romance de aventura envolvendo um grupo de coelhos, obrigado a abandonar seu habitat pela interferência do homem. Sawyer, um dos sobreviventes do voo Oceanic 815, é visto lendo o livro na praia no seriado Lost. Publicado em 1972, após recusa de várias editoras, teve uma edição lançada no Brasil em 1976. Vai se tornar série na Netflix, em co-produção com a inglesa BBC.

The plague dogs traz o relato em tom de aventura e suspense em que dois cães escapam de um laboratório de pesquisas que usa animais: cães, gatos, macacos, ratos e outros. Como a saga dos coelhos, o livro lançado em 1977 é tratado como uma obra voltada ao leitor jovem, mas se de um lado os animais "falam" e têm atitudes e pensamentos humanos, por outro a narrativa é carregada com passagens de sofrimento animal.

Parte da história é reservada à descrição da indiferença dos pesquisadores à dor e angústia dos animais, em experiências que envolvem privação de alimentos, ar, companhia, administração de substâncias tóxicas, choques elétricos, correntes de ar, cirurgias sem anestesia, mutilações e outros horrores.

Rowf e Snitter são os protagonistas da aventura, que inclui ainda uma raposa batizada de Tod e muitos humanos, um deles repórter sensacionalista. Os fugitivos enfrentam medo, fome e frio, enquanto o cerco para eliminá-los vai se fechando.

Vejo The plague dogs mais como uma história triste do que juvenil. Em longos trechos, no laboratório ou nos campos em que os cães tentam se esconder, a narrativa desperta melancolia. Em outros, o diálogo entre os homens, quando o assunto é a utilização de animais em laboratório, é quase panfletário. No conjunto, leva a uma forte reflexão do uso que fazemos dos animais.