quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Aventura juvenil, sofrimento adulto



Obra de Richard Adams é das mais populares na Inglaterra

É uma história parecida com a do seu conterrâneo J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O senhor dos anéis. Richard Adams começou a contar histórias envolvendo coelhos para suas filhas, e por insistência das meninas colocou os relatos no papel para se tornar um dos escritores mais populares da Grã Bretanha.

Sua obra de maior sucesso é Watership Down, traduzida no Brasil para A longa jornada. Um romance de aventura envolvendo um grupo de coelhos, obrigado a abandonar seu habitat pela interferência do homem. Sawyer, um dos sobreviventes do voo Oceanic 815, é visto lendo o livro na praia no seriado Lost. Publicado em 1972, após recusa de várias editoras, teve uma edição lançada no Brasil em 1976. Vai se tornar série na Netflix, em co-produção com a inglesa BBC.

The plague dogs traz o relato em tom de aventura e suspense em que dois cães escapam de um laboratório de pesquisas que usa animais: cães, gatos, macacos, ratos e outros. Como a saga dos coelhos, o livro lançado em 1977 é tratado como uma obra voltada ao leitor jovem, mas se de um lado os animais "falam" e têm atitudes e pensamentos humanos, por outro a narrativa é carregada com passagens de sofrimento animal.

Parte da história é reservada à descrição da indiferença dos pesquisadores à dor e angústia dos animais, em experiências que envolvem privação de alimentos, ar, companhia, administração de substâncias tóxicas, choques elétricos, correntes de ar, cirurgias sem anestesia, mutilações e outros horrores.

Rowf e Snitter são os protagonistas da aventura, que inclui ainda uma raposa batizada de Tod e muitos humanos, um deles repórter sensacionalista. Os fugitivos enfrentam medo, fome e frio, enquanto o cerco para eliminá-los vai se fechando.

Vejo The plague dogs mais como uma história triste do que juvenil. Em longos trechos, no laboratório ou nos campos em que os cães tentam se esconder, a narrativa desperta melancolia. Em outros, o diálogo entre os homens, quando o assunto é a utilização de animais em laboratório, é quase panfletário. No conjunto, leva a uma forte reflexão do uso que fazemos dos animais.

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