domingo, 29 de julho de 2018

Mitologia nórdica

Os personagens foram apropriados pela cultura pop
O talento de Stan Lee e seus parceiros na criação de super-heróis para a Marvel é inegável. Mas, ao menos no caso de Thor e seu indefectível martelo, já estava tudo pronto para a turma das HQs adaptar. É o que fica nítido na leitura de "Mitologia Nórdica", de Neil Gaiman, ele mesmo um declarado admirador do Deus do Trovão, seu pai Odin, o irmão Loki e toda os habitantes de Asgard.

As relações entre deuses, gigantes, anões e outros personagens mitológicos se sucedem ao longo das crônicas da obra. Chama a atenção a sequência de engodos, tramoias e ardis com que as nobres divindades tentam passar para trás umas às outras o tempo todo.

Não raro, o assunto acaba em pancadaria. O ardiloso Loki tem a capacidade de sempre piorar as coisas. E há passagens surpreendentes e de humor impagável, como Thor ter de se vestir de mulher para enganar o ladrão que roubou seu martelo Mjolnir para tentar recuperá-lo.

O estelionato é frequente, mas há também muitos códigos de honra. E respeito à mulher, que tem espaço para recusa ao desempenho de alguns papéis menos nobres. Estamos falando de uma obra que reúne lendas anteriores ao cristianismo. As walkírias eram divindades encarregadas de recolher as almas dos guerreiros e conduzi-las até Valhalla, o salão dos mortos.

Não se surpreenda em encontrar personagens muito familiares em obras como "Senhor dos Anéis" ou "Harry Potter". J. R. R. Tolkien e J. K. Rowling beberam à vontade das fontes escandinavas. Se quiser saciar sua sede também, "Mitologia Nórdica" tem edição em português da Intrínseca. Na versão em áudio, a locução é do próprio Neil Gaiman, um deleite extra.



segunda-feira, 9 de julho de 2018

Olhar sem ver

Perturbadora fábula em que não se pode ver quem está ao lado  

Os verbos "desver", "desouvir" e "dessentir" são usados com frequência nessa obra do escritor e ativista político britânico China Tom Miéville. E querem dizer exatamente o que sugere sua leitura: você vê, mas não pode enxergar o que está vendo, escuta sem ouvir, sente, mas não apreende. Alguma familiaridade com relação ao motorista que "desvê" o pedinte tanto à janela de seu carro parado no semáforo?

Para não correr o risco de estragar a experiência da leitura de "A cidade e a cidade", isso é mais do que o bastante para falar da experiência de viver em Beszel ou Ul Qoma. As duas cidades que justificam o título do livro ocupam o mesmo espaço geográfico, mas são separadas por idiomas, culturas e administrações diferentes. Ver algo ou alguém da outra cidade é um grave delito.

O assassinato de uma jovem estudante envolve o inspetor Tyador Borlú, do Esquadrão de Crimes Hediondos de Beszel. É o começo de uma trama policial com traços de distopia, no cenário desconcertante das cidades vigiadas pela misteriosa e onipresente Brecha, capaz de interferir ao mínimo deslize dos cidadãos. 

Adendo da editora Boitempo lembra que "A cidade e a cidade" foi publicado no Brasil em 2014, ano em que se celebrou o aniversário de 25 anos da queda do Muro de Berlim. E também fazia 20 anos que os EUA começaram a construir seu muro na fronteira do México e 12 que Israel fazia o mesmo na Cisjordânia, entre outras obras de separação física em curso no mundo.

Assim como as duas cidades imbricadas, a leitura desse livro oferece várias interpretações. Chamar de ficção científica ou distopia urbana é pouco, até porque a tecnologia retratada na obra é quase toda contemporânea. Miéville tem sido enquadrado na categoria de um autor de weird fiction, ou ficção estranha. Mas, querendo, basta pensar um pouco e olhar em volta para enxergar muitos paralelos na cidade onde você mesmo vive.

"A cidade e a cidade" foi lançado originalmente em 2009. Para chegar ao Brasil, passou pela tradução desafiadora e competente de Fábio Fernandes.

domingo, 1 de julho de 2018

Endurance: Shackleton's Incredible VoyageEndurance: Shackleton's Incredible Voyage by Alfred Lansing
My rating: 5 of 5 stars

Uma das mais inacreditáveis aventuras da exploração polar, uma história já plena de narrativas de superação pela conquista dos extremos gelados do planeta. Um grupo de homens enfrenta um desafio de sobrevivência não planejado, lançando mão de recursos cada vez mais limitados. Liderança, coragem e resiliência marcam essa narrativa.
Um trabalho notável do escritor e jornalista norte-americano Alfred Lansing, a partir de entrevistas com os participantes da expedição e leitura de seus diários.


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