domingo, 26 de fevereiro de 2017

Sherlock Holmes


Marcus Vinicius Gasques e Caio Peroni conversam sobre o mais famoso detetive da literatura, o personagem que se tornou maior do que o seu criador.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Sodoma e Gomorra

Quarto volume de "Em busca do tempo perdido"
Sexo passa a ser mais presente na vida do narrador de "Em busca do tempo perdido", e ocupa boa parte do desenvolvimento desse quarto volume da extensa obra de Marcel Proust. E o título "Sodoma e Gomorra" é mais do que uma mera sugestão do conteúdo da narrativa, uma vez que o homossexualismo incorpora-se às preocupações sociais e existenciais do jovem protagonista, alter-ego do autor.

Mais uma vez, Proust divide a narrativa entre os salões aristocráticos de Paris e os cenários bucólicos da cidade litorânea de Balbec. O autor transmite fascínio pelas relações entre os nobres, mas não deixa de destilar uma mordacidade por vezes nada sutil para com as intrigas temperadas com altas doses de esnobismo.

Em um ato de extrema indiscrição, o herói constata o homossexualismo de um integrante da alta sociedade. Mas o tema vai afetá-lo visceralmente quando passa a suspeitar das tendências homossexuais de Albertine, com quem mantém uma amizade que resvala para o romance e permite cogitar um casamento.

Em um dos trechos mais tocantes da obra, o personagem extravasa o doloroso sofrimento pela perda da avó, fortemente associada ao cenário e rotina da cidade litorânea para onde costuma viajar com o propósito de cuidar da saúde frágil. É para essa região também que se desloca praticamente toda a corte de nobres e pretendentes à nobreza, com toda a rede de intrigas de quem está qualificado a frequentar os salões.

"Sodoma e Gomorra" também contempla o caso Dreyfuss, que dividiu a opinião pública na França e mesmo em outras partes do mundo - inclusive o Brasil - no debate sobre se um oficial do exército, de ascendência judaica, teria ou não cometido traição. Igreja, militares e direita de um lado, políticos progressistas, intelectuais - incluindo Proust e Émile Zola - de outro, promoveram uma polêmica que se arrastou por anos, até o oficial acusado ser "perdoado". A inocência de Dreyfus seria reconhecida apenas um século depois dos fatos, em 1995.

Nessa obra extensa - são mais de 600 páginas - Proust destila muita ironia e humor em seu texto rebuscado. Exemplos são a descrição de um prostíbulo de luxo que lembra um pregão de bolsa de valores ou situações como o empenho do gerente do hotel em trinchar pessoalmente um peru para agradar famílias ilustres.

Retrato da sociedade na virada do século 19 para o século 20, o autor relata situações que ressaltam o papel servil das mulheres e as atitudes machistas dos personagens masculinos.