terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O Gato e as OrquídeasO Gato e as Orquídeas by Kwong Kuen Shan
My rating: 5 of 5 stars

Inspirada combinação de aquarelas que retratam flores - principalmente orquídeas - com gatos em "atitudes de gato", provérbios e trechos de sabedoria popular oriental. Kwong Kuen Shan ainda compõe as 40 pinturas que ilustram seu terceiro livro com sinetes chineses que traduzem seus sentimentos e inspiração.

A autora revela ainda em um breve texto como a convivência com os felinos de uma amiga a curou de sua "gatofobia". Pelo que se vê de sua obra, publicada no Brasil pela Estação Liberdade, mais do que curou, a converteu em uma apaixonada por gatos. Fenômeno, aliás, muito frequente em quem tem medo ou afirma não gostar de gatos, mas acaba tendo oportunidade de conviver e conhecê-los direito.

"O gato e as orquídeas" foi traduzido do francês por Denise Bottmann.


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domingo, 29 de dezembro de 2019

A longa viagem a um pequeno planeta hostil (Wayfarers, #1)A longa viagem a um pequeno planeta hostil by Becky Chambers
My rating: 3 of 5 stars

Uma história de ficção científica de viés otimista sem medo de explorar os clichês mais comuns do gênero. Temas como tolerância e convívio harmonioso entre os muito diferentes estão sempre presentes, em relacionamentos sociais, amorosos e sexuais sem distinção de espécie ou gênero.

A autora explora conflitos pessoais e galácticos envolvendo a tripulação de uma nave cuja missão é apenas a prestação de serviços. No caso, abrir "buracos de minhoca" para abreviar viagens interplanetárias. Filha de cientistas ligados à exploração do espaço, Becky Chambers consegue passar conceitos de Física em linguagem acessível. E cria algumas situações interessantes para os fãs do gênero, embora no geral seu estilo seja bem juvenil, com uso de piadinhas muito fáceis.

Leitura descompromissada. Acredito que o livro seja supervalorizado pela história pessoal da autora. Becky Chambers conseguiu reunir leitores para sua obra através de um esforço de autopublicação que acabou por atrair a atenção dos editores. Ela conta essa experiência em um breve relato no fim de "A longa viagem a um pequeno planeta hostil" que foi mantido na edição da DarkSide. A boa tradução é de Flora Pinheiro.


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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest TrailWild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail by Cheryl Strayed
My rating: 4 of 5 stars

Uma sucessão de perdas e dramas pessoais começa a levar Cheryl à autodestruição. Na contramão das decisões questionáveis que adota em sucessão, como assumir o sobrenome de Strayed (perdida), a jovem de 26 anos resolve fazer uma caminhada pela Pacific Crest Trail. Entre as fronteiras com México e Canadá, a jornada cobre 4.260 km do leste dos EUA. Com pouquíssimo dinheiro, sem nunca ter feito trekking, Cheryl decide-se a caminhar mais de 1.600 km entre o deserto de Mojave e o estado de Washington. Sozinha.

A mochila desproporcionalmente grande anuncia a inexperiência da jovem aos que encontra pelo caminho. A autora vai alternando o relato sobre a relação difícil com o pai, problemas familiares e com o casamento com a narrativa de sua experiência na trilha. Cansaço, bolhas no pé, encontros com animais selvagens, passagem por trechos nevados e penhascos, sede, acampamentos. Tudo o que desperta a vontade, em quem já viveu esse tipo de aventura, de preparar a mochila e partir para uma longa caminhada.

Cheryl tem sempre um livro na mochila, cuja leitura anima o fim de seus duros dias de jornada. De "Enquanto Agonizo", de William Faulkner, ao pouco conhecido "The Ten Thousand Things", de Maria Dermout, passando por contos de Flannery O'Connor, a jovem devora páginas como devora quilômetros.

"Wild" foi lançado no Brasil como "Livre" pela editora objetiva, com tradução de Débora Chaves. Uma leitura emocionante para quem gosta de relatos de superação, aventuras na natureza e leitura, muita leitura.


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sábado, 21 de dezembro de 2019

A Fugitiva (Em Busca do Tempo Perdido, #6)A Fugitiva by Marcel Proust
My rating: 5 of 5 stars

O protagonista de Proust sofre com a dúvida se o que sentia por Albertine era amor - ou ainda pode ser. Sofre de ciúmes com suspeitas do que sua jovem amiga poderia ter feito no passado - ou mesmo durante o período em que viveu em sua casa. E sofre com a incerteza sobre a sexualidade de Albertine. Enfim, sofre continuamente, e leva o leitor a acompanhar suas reflexões atormentadas.

E "A fugitiva", Proust continua o relato sobre as desprezíveis intrigas na aristocracia parisiense, os jogos de interesse e mesquinharias. Mesmo seu personagem conta com o poder econômico como "argumento" para atrair a amante de volta ao seu controle.

A questão do homossexualismo se apresenta ainda com mais força no relato. E o envolvimento com meninas mais jovens. Subversivo, mesmo levando em conta a publicação ter sido feita há mais de 90 anos.

"A Fugitiva" tem espaço ainda para considerações até sobre diplomacia e geopolítica. Mas Proust mantém seu olhar, privilegiado, cuidadoso e atento às artes, reforçado quando da visita do protagonista a Veneza. E não economiza poesia ao falar das emoções despertas pela literatura:

"Às vezes, a leitura de um romance um pouco triste me reconduzia bruscamente para trás, porque certos romances são como grandes lutos momentâneos, abolem o hábito e põem-nos novamente em contato com a realidade da vida, mas somente por algumas horas, como um pesadelo; porque as forças do hábito e o esquecimento que elas produzem, com a alegria que nos restituem pela impotência do cérebro em lutar contra elas e em reconstituir a verdade, vencem esmagadoramente a sugestão quase hipnótica de um belo livro, que, como todas as sugestões, tem efeito brevíssimo."


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