domingo, 29 de maio de 2016

Leitura de férias

Duas caras bem conhecidas do público nerd


Até entre as pessoas que não gostam de livros e leitura, Sherlock Holmes é um nome e uma imagem: o detetive sabichão, de cachimbo na boca e o amigo e auxiliar que vivia ouvindo a afirmação pouco modesta: “Elementar, meu caro Watson!”.

O fato é que o médico e companheiro John Watson – narrador das aventuras de Holmes - jamais ouviu essa frase, que se tornou tão popular quanto o detetive. Não importa: ao resolver cada caso com seu método de observação e dedução, o detetive sempre fazia quem estava acompanhando as investigações se sentir “menos”.

Afinal, a solução sempre era óbvia, desde o princípio; testemunhas, Watson e a própria Scotland Yard é que não enxergavam. Elementar.

Arthur Conan Doyle criou Sherlock Holmes no fim do século 19, e o detetive protagonizou romances e aventuras por décadas. Algumas resvalaram pelas fronteiras do sobrenatural, como a ótima O Cão dos Baskervilles.

Mas alguma coisa tornou-se quase repetitiva, como este As aventuras de Sherlock Holmes que me acompanhou em minhas últimas férias. O detetive sempre solicita a presença de Watson com o mesmo argumento, sempre resolve o mistério, mas nem sempre a trama é criativa.

Exceção nesse livro de 12 contos é Um escândalo na Boêmia. A narrativa é curta, mas cria e sustenta a intriga. Vale a leitura e depois conferir a versão produzida pela britânica BBC na série  Sherlock. A dupla principal é interpretada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman. 

Holmes não é nem um grau menos arrogante nesta adaptação – uma de muitas feitas para o teatro, cinema e TV -, mas a interpretação do personagem e sua interação com o “doutor Watson” é impagável.

Desafio moleza para nerds: Cumberbatch e Freeman têm algo em comum na obra de outro inglês famosíssimo. Essa é mais fácil que resolver um dos mistérios de Sherlock Holms.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

"O cão é que morreu"

A obra foi adaptada três vezes para o cinema

O texto de Somerset Maugham é fluido e elegante. Adultério, mentiras, falsidade e amores frustrados cercam os personagens principais. As fortes emoções que envolvem Kitty Fane são descritas com apuro, e fazem do leitor um refém da angústia que afeta não só a protagonista da trama, mas todos que estão ao seu redor.

Em meio a decisões extremas e uma epidemia de cólera que dizima a população na China rural, a bondade – segundo o autor – parece sobreviver apenas em um convento de devotadas freiras que cuidam dos pobres chineses doentes.

O véu pintado é uma história de arrependimento, com passagens de folhetim que justificam o fato de ter sido adaptada três vezes para o cinema. Como pano de fundo para o drama, valem as descrições vívidas que o autor faz da paisagem e das pessoas. Já um escritor de sucesso, Maugham pôde viajar para o oriente, no momento em que o Império Britânico dominava a Índia e várias regiões da China, como Hong Kong. É lá que a trama começa, temperada com sexo de uma maneira que chocava a sociedade de 90 anos atrás, quando o livro foi lançado.

O véu pintado vale a leitura, especialmente para quem aprecia um bom drama. Mas está longe de ser a melhor obra do autor. Atente para a citação “The dog it was that died”, colocada com talento na boca de um personagem em um momento trágico. O melhor momento do livro.


Para quem optar pelo audiolivro, a narração de Sophie Ward é impecável.