domingo, 11 de setembro de 2016

Dinastia de mais de três séculos teve desfecho trágico

Em contraste com um império empobrecido, a família Romanov e a aristocracia da Rússia de um século atrás viviam em meio a uma opulência difícil de conceber. As primeiras cenas de The family Romanov - não há título em português - descrevem um baile em que os vestidos eram cobertos com tantos diamantes que as mulheres mal podiam se mover. Nas zonas rurais, mães faziam seus filhos dormir com cantigas cujas letras aceitavam a morte como um destino muitas vezes melhor para as crianças.

A autora Candice Fleming é bem-sucedida no cuidado de se manter imparcial ao relatar a vida e a morte da família do último czar da Rússia, destituído pela Revolução Bolchevique. The family Romanov é uma obra adotada nas escolas. Mas mesmo quando ela é apenas descritiva os dados chocam: a família desfrutava de dezenas de palácios, iates e até trens. Os Romanov viajavam durante o ano inteiro, mas em sua principal habitação - o Palácio de Inverno em Petrogrado - havia 500 empregados e praticamente um zoológico de animais de estimação, que incluía um elefante.

O livro é baseado em testemunhos - parte deles transcritos - como o do jornalista John Reed, autor de Os dez dias que abalaram o mundo. E contém erros de localização geográfica, resultado da desatenção da autora, que se localiza mal em relação a Leste e Oeste. Sua leitura, porém, nos apresenta a personagens intrigantes como Rasputin, reporta a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a entrada da Rússia no conflito e revela didaticamente a escalada da insatisfação do povo com seu imperador.

Mostra, também, a total inabilidade de Nicolau II em lidar com a revolução que se anunciava. A ponto de sua Guarda Imperial abrir fogo contra uma multidão que pretendia entregar uma petição ao imperador em seu palácio, ostentando ícones religiosos e cantando hinos em homenagem ao czar. O episódio em 9 de janeiro de 1905 resultou na morte de centenas de pessoas, e ficou conhecido como Domingo Sangrento.

A admiração por Nicolau II começou a fraquejar, juntando-se aos fracassos militares na guerra, a enorme perda de vidas e o aumento acelerado na penúria do povo. A insatisfação popular foi o combustível da Revolução. O czar acabou sendo obrigado a abdicar. Sua família vai perdendo privilégios até terminar em uma casa-prisão na Sibéria.

A dinastia Romanov não conhecia outro modo de vida há séculos. Ainda assim, Nicolau, sua esposa Alexandra, as quatro filhas e o filho foram se adaptando às privações até o trágico desfecho. As meninas mantinham seu espirito jovial e comunicativo mesmo em meio a um ambiente cada vez mais hostil. O que só torna a crua descrição de Candice Fleming, baseada no que foi registrado pelas testemunhas na ocasião, ainda mais chocante.

The family Romanov é um excelente resumo dos episódios históricos que antecederam o fim do czarismo e a Revolução Bolchevique. E um relato dramático da extinção de uma família. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

E se o executado for inocente?

No Rest for the Dead No Rest for the Dead by Andrew Gulli
My rating: 3 of 5 stars

A fórmula já havia sido usada antes, ao menos uma vez em um romance policial. Em 1932, Agatha Christie e outros 12 integrantes do Detenction Club se juntaram para escrever "A morte do almirante". Em 2011, 26 autores escreveram "No rest for the dead". É um bom romance policial, com passagens muito boas, outras de fraca verossimilhança e um final mais ou menos surpreendente.
O trecho mais contundente é a descrição realista da execução de uma mulher acusada de assassinato. Ela é mãe de dois filhos e nega o crime até os momentos finais, dramáticos. Se ela é culpada pela morte do marido ou não, é uma dúvida que o leitor só vai esclarecer no final. Mas a leitura deve provocar questionamentos até no mais convicto defensor da pena de morte.

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