A Lei Áurea e a República nada significaram na vida de Lima Barreto |
A vida bateu forte em Lima Barreto. O autor nasceu em 13 de maio de 1881, ironicamente exatos sete anos antes da Lei Áurea,
que, ao menos no papel, decretou o fim da escravidão. Em 15 de novembro de
1889, quando ele tinha oito anos e meio de idade, foi proclamada a
República.
Nem uma mudança nem outra alteraram em nada
a vida de pessoas como Lima Barreto, descendente de escravos. A monarquia
acabou, mas não os privilégios da aristocracia, nem o preconceito contra negros
e mulatos, que acompanhou toda breve vida do autor, que chegou a pensar em
suicídio aos 15 anos de idade.
A perda prematura da mãe para a tuberculose
e do pai para a loucura obrigaram Lima Barreto a abandonar a faculdade a fim de
sustentar a família. As portas de fecham, as humilhações se sucedem, e o autor vai
buscar conforto na boemia e no álcool.
Lima Barreto começa a trabalhar em redações
de jornais, revistas, publicações acadêmicas e anarquistas. Sua principal e
mais conhecida obra –Triste fim de Policarpo Quaresma – chegou ao mercado sob a
forma de folhetins publicados no Jornal do Commercio.
Mas a vida desregrada acaba levando-o a
sucessivas internações no Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro. É o "cemitério dos vivos" que dá titulo à obra, referência a uma localidade na China que teria sido
reportada por um diplomata ocidental. Nela, portadores de hanseníase (lepra)
eram deixados para sobreviver da maneira que pudessem.
O relato que Lima Barreto faz através do
personagem-narrador Vicente
Mascarenhas é dolorido. O ambiente de
decadência física e mental mescla alcoólatras, epiléticos, doentes de fato e
por “opção” – assassinos de esposas e companheiras que por conveniência se
passam por “loucos”.
O autor faz o retrato triste de pessoas e situações,
homens, mulheres e crianças, médicos e funcionários que vivem à margem do
mundo dos "normais". Ele é mais um “louco”, mas está atento a registra tudo com
sua prosa de vanguarda e contestadora para a época.
Lima Barreto morreu em casa em 1922, aos 41 anos, de um ataque do coração. O Cemitério dos Vivos foi publicado em 1919 e
está em domínio público. Ainda que fosse preciso pagar, a leitura desse romance
pré-modenista é necessária para entender o Brasil. Sendo gratuita, é
obrigatória.