sábado, 23 de dezembro de 2017

Waterloo

Waterloo: The True Story of Four Days, Three Armies and Three BattlesWaterloo: The True Story of Four Days, Three Armies and Three Battles by Bernard Cornwell
My rating: 5 of 5 stars

Excelente síntese da batalha que definiu a derrota de Napoleão. O autor ora descreve as decisões militares, a estratégia e os grandes movimentos táticos, ora coloca o leitor no centro dos combates, fechando o foco em detalhes e episódios do conflito.


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domingo, 17 de dezembro de 2017

Stephen King não ficou bom em HQ

Histórias viraram um filme de George Romero

Os roteiros são assinados por Stephen King, mas apenas duas das seis histórias são razoáveis. Como passatempo vale uma horinha por conta dos desenhos de Bernie Wrightson, nos estilo dos clássicos quadrinhos de horror dos anos 1950 e 1960.


sábado, 16 de dezembro de 2017

O preço do sal




 Livro ganhou recente versão para o cinema com Cate Blanchett e Rooney Mara


Patricia Highsmith é uma exímia artífice de atmosferas. A maneira como ela enreda as duas protagonistas de "Carol" - a que dá nome ao romance e Therese Belivet - em um clima de progressiva angústia contamina o leitor. O sentimento entre as duas mulheres começa no frenético clima de Natal em Nova York e vai num crescendo de intensidade enquanto a trama se converte em um road book.

De cidade em cidade, entre momentos de dúvida, melancolia e discreta felicidade, tudo parece conduzir para um desfecho infeliz. E não falta o toque de suspense da criadora de "Strangers on a Train" - levado aos cinemas por Alfred Hitchcock como "Pacto sinistro". 

"Carol" foi lançado em 1952 com o título original "The price of salt", assinado sob o pseudônimo Claire Morgan. Patricia Highsmith conta que o nome foi inspirado em um pensamento seu sobre o preço pago pela esposa de Lot quando ela olhou de volta para Sodoma, no episódio bíblico em que pessoas são punidas e transformadas em estátuas de sal pela desobediência de não testemunhar a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra.

"The price of salt" só viria a ser publicado como "Carol" em 1990, agora com o nome da autora. Patricia Highsmith revelou na ocasião ter ela mesmo trabalhado em uma loja de departamentos no período do Natal, quando sua atenção foi chamada por uma mulher vestindo um casaco de pele. Foi para casa, relata, e esboçou o livro em poucas horas. Logo após a publicação do livro, Highsmith conta que passou a receber de 10 a 15 cartas toda semana, agradecendo e pedindo conselhos.

“Antes deste livro, os homossexuais, masculinos e femininos, nos romances americanos, eram obrigados a pagar pelo seu desvio cortando os pulsos, se afogando em piscinas, ou mudando para a heterossexualidade (assim se afirmava) ou mergulhando – sozinhos, sofrendo, rejeitados – em uma depressão dos infernos”, afirmou a autora sobre o sucesso da obra.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Pinhead caiu no ridículo

Parece que ter virado boneco colecionável desmoralizou o personagem

Clive Barker foi inovador ao criar a figura assustadora dos Cenobitas, mas em "Evangelho de Sangue", seu último romance (2011) parte para uma aventura juvenil. Em uma abordagem demasiadamente clichê do tipo "bem contra o mal", um time de sensitivos resolve resgatar uma integrante do grupo, sequestrada por Pinhead e levada para o inferno.

Os intrépidos vigilantes do bem encontram um inferno em que funcionários públicos, policiais e burocratas usam uniformes, com suas respectivas cores. Ou seja, nem precisavam ter saído da Terra para encontrar gente de má vontade uniformizada. Mas é preciso resgatar a amiga, e acabam se vendo dentro de um rebuliço por conta do golpe de estado promovido por Pinhead (de novo: precisavam ter saído daqui?).

À sua costumeira aposta na escatologia e na descrição pormenorizada das torturas inflingidas às vítimas, Clive Barker acrescenta pormenorizadas descrições de maus cheiros. Nisso o autor é muito bom, mas cai no ridículo ao incluir a todo momento diálogos pueris, que beiram o ridículo levando-se em conta a situação - e o local - em que os personagens se encontram.

Me parece que ter virado boneco Funko Pop fez muito mal a Pinhead.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O pesadelo da história

A obra foi transformada em série para o serviço de vídeo sob demanda Hulu

O mais assustador do livro "O conto da aia", de Margaret Atwood, não é o clima sombrio que perpassa toda a trama, mas a sensação sempre presente de que as situações descritas poderiam de fato ser reais. E são, segundo costuma afirmar a própria autora em entrevistas.

A canadense Margaret Atwood, hoje com 77 anos de idade, viveu parte de sua vida "do outro lado" do que se convencionou chamar de Cortina de Ferro, o bloco de países além do muro de Berlin sob influência da extinta União Soviética. O medo constante de falar algo inadequado a um possível espião do regime, as conversas sussurradas e o risco de uma delação eram sombras onipresentes na vida das pessoas.

A touca "tapa-olhos" usada por Jane/Offred, protagonista vivida pela atriz Elisabeth Moss, o regime teocrático e autoritário e a prática de manter mulheres na função de reprodutoras para gerar e parir crianças que serão "filhos" de casais de uma elite infértil são práticas já experimentadas por grupos sociais ao longo da história, ou ainda em vigor em determinadas localidades.

"O conto da aia" ("The handmaid's tale") foi lançado em 1985 e, embora Margaret Atwood seja uma escritora premiada, a obra tornou-se um grande sucesso de vendas - e uma muito bem executada série no serviço de video-streaming Hulu - apenas nos últimos dois anos. A razão é o público ter começado a perceber semelhanças entre a obra de ficção e a onda conservadora que se manifesta em diferentes regiões do planeta, com a ascensão ao poder de instituições, políticos e grupos religiosos de discurso  reacionário. 

Margaret Atwood não se declara propriamente militante feminista, mas sua obra em geral e "O conto da aia" em particular põem em foco condições e ambientes de opressão às mulheres. Mais do que isso, retratam sociedades repressivas, às vezes movidas por fundamentalismo religioso. Qualquer semelhança com a história não é mera coincidência.

domingo, 6 de agosto de 2017

História da sua vida e outros contosHistória da sua vida e outros contos by Ted Chiang
My rating: 4 of 5 stars

A questão da linguagem é destaque em ao menos três dos oito contos do livro, um dos quais (História da sua vida) serviu de base para o argumento do filme A Chegada. Ted Chiang tem uma abordagem inovadora da ficção científica, explorando temas que vão de fábulas religiosas à ciência mais elementar e suas implicações.
Meu conto preferido no livro é "Gostando do que você vê: um documentário", original na apresentação e uma forte crítica à "ditadura da beleza", uma poderosa provocação às indústrias de cosméticos e cirurgia plástica.


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quinta-feira, 15 de junho de 2017

Clube da LutaClube da Luta by Chuck Palahniuk
My rating: 4 of 5 stars

Perturbadora visão da sociedade de consumo, com altas doses de violência e comportamento antissocial como veículo de crítica ao american way of life. Por extensão, também aos padrões obsessivamente adotados em países emergentes.


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sábado, 3 de junho de 2017

Trama envelhecida

Livro hoje só é encontrado em sebos
Um romance de espionagem de muito sucesso por ocasião de seu lançamento, nos anos 1970, mas que ficou datado. A trama até convence e cria um bom clima de suspense, mas o herói e seus inimigos são inconsistentes, e o romance que nasce no meio da obra beira os folhetins baratos de banca de jornal.

Celebração da natureza

A obra é posterior à publicação de On the road

Três gêneros de leitores podem apreciar "The Dharma bums", traduzido para o português e lançado pela L&PM como "Os vagabundos iluminados". Fãs da literatura beat, seguidores e interessados pelo budismo e adeptos do montanhismo. Saraus, bebedeiras, orgias, caronas, caminhadas, escaladas e noites ao relento alternam-se com meditação e reflexões sobre correntes filosóficas e tradições que chegavam do Oriente para os Estados Unidos na década de 1950 e eram abraçadas pela geração beat.

Jack Kerouac relata suas experiências entre São Francisco, México estradas, uma passagem pela casa da mãe, a escalada do pico Matterhorn e uma temporada como guarda-parque no Desolation Peak na pele de Ray Smith. Também estão presentes na obra Neal Cassady - parceiro das viagens de "On the road" -, com o nome de Cody Pomeray, e os poetas Gary Snyder, como Japhy Ryder, e Allen Ginsberg, como Alvas Goldbook.

Uma leitura na velocidade das rodovias e longas jornadas de Kerouac/Smith, uma bela celebração da natureza, aventura e vida ao ar livre.

Um bom romance de estreia

A obra é a estreia do autor como romancista

Retrato sem filtros da sociedade e da degradação da cidade de São Paulo em um romance muito bem escrito.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Jack London, autor de vida e obra intensas

Jack London age 9 - crop
Jack London aos 9 anos, com seu cão Rollo, em foto de 1885
Há quem diga que a ideia de viver grandes experiências, fazer longas viagens e conhecer muitos lugares não é essencial para alguém se tornar um bom escritor. Mas Jack London viajou muito, foi de trabalhador infantil a vagabundo viajante clandestino em trens, pirata, marinheiro e presidiário, militante socialista e apoiador da Lei Seca, ele mesmo vítima dos abusos do álcool.

Se essas experiências já não bastassem para inspirar muitas obras, London ainda participou da corrida do ouro no fim do século 19, foi correspondente de guerra no conflito entre a Rússia e o Japão, em 1904, teve dois casamentos. Uma vida tão intensa combinou-se com a inclinação para o estudo e o autoaprendizado e uma grande dose de talento para fazer dele um dos escritores mais importantes dos Estados Unidos. Se não é essencial viver intensamente para escrever, London fez de suas aventuras o ingrediente de uma obra extensa e palpitante. Ao longo dos apenas 40 anos que viveu.

Durante muito tempo sua obra foi reduzida pelos críticos a "livros sobre cachorros", referência a títulos como "O apelo da selva" e "Caninos brancos". Com  adaptações para o cinema, TV e quadrinhos, essas emocionantes obras que falam de lealdade e sobrevivência tornaram London conhecido no mundo inteiro.

Aventuras em situações e ambientes hostis são uma constante nos romances, contos e memórias do autor. Impossível não se sentir na pele de um homem que luta pela sobrevivência, tentando acender fogo no frio extremo do Ártico, sob as vistas de um lobo velho e faminto que o espreita, na narrativa breve "Fazer uma fogueira".

Em seu romance curto "A praga escarlate", já em 1912 London antecipa um gênero hoje muito popular, a ficção científica distópica. Em um futuro então distante, no século 21, um avô, o professor Smith, conta a seus três netos fatos sobre a vida que eles desconhecem, como a epidemia que dizimou a população do planeta.

Quando ele fala em bilhões de habitantes, e as crianças não sabem sequer o que é um milhão, o velho professor pega um punhado de areia na praia e faz a analogia. Pela voz do personagem, London dá uma aula às crianças sobre germes, doenças e epidemias. Elas têm dificuldade de compreender como é possível acreditar em algo que não se vê, como bactérias. Uma dificuldade que muitas pessoas ainda tinham há um século.

sábado, 1 de abril de 2017

Pílulas azuisPílulas azuis by Frederik Peeters
My rating: 5 of 5 stars

Quem se considera muito bem informado sobre o vírus HIV e como é a vida de um soropositivo talvez não precisasse ler essa obra. O suíço Frederik Peeters lança mão de seu talento como quadrinista para relatar sua relação com Cati e seu pequeno filho, ambos portadores do vírus da Aids.
O cotidiano, as dúvidas sobre os riscos de transmissão, o tratamento com as tais pílulas azuis, reflexões sobre a vida e a morte são relatados com leveza na narrativa e os traços grossos do autor. Mesmo quem se acredita suficientemente esclarecido sobre o tema pode e deve ler essa obra autobiográfica, acima de tudo uma belíssima história de amor.


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domingo, 19 de março de 2017

O marciano


O título em português é inadequado, mas o livro é ótimo

Talvez você se canse de ler sobre cálculos, raciocínios complexos e batatas. Mas, não duvide, Mark Watney ficou muito mais enjoado. É do tubérculo - entre outras coisas essenciais à vida, como água e ar - que depende a sobrevivência do astronauta-botânico deixado no planeta vermelho. A condição não planejada faz dele "O marciano", título original substituído em português por "Perdido em Marte". 

E perdido é o que Mark não chega bem a ficar. Deixado para trás, abandonado, até pode ser. Mas, apesar de ferido, ele se vira muito bem com seus conhecimentos científicos, espírito de improvisação e vontade de viver, contrariando os piores prognósticos.

Leitor voraz e admirador de ficção e divulgação científica, o ex-programador Andy Weir batalhou muito a fim de conseguir uma editora para seu primeiro romance, divulgado inicialmente como um seriado em seu site. História comum: foi recusado por várias editoras, até decidir publicar "The martian" como livro eletrônico, oferecido por 99 centavos de dólar. A menos que você tenha vivido os últimos anos em Marte, sabe que a trama acabou chegando aos cinemas.

Andy Weir foi cuidadoso para tornar o mais cientificamente verossímil seu trabalho. É verdade que, em muitas situações, Mark Watney lembra o personagem Macgyver do seriado de TV, aquele que conseguia escapar das situações impossíveis com recursos improváveis. Mas o fato é que, apesar de algumas concessões, o romance não abusa da ciência real.

Mais do que isso, cria muita tensão e aquela deliciosa necessidade para o leitor saber o que ocorrerá a seguir. E há um clima de suspense constante também na nave Hermes, em viagem de retorno à Terra após a missão abruptamente interrompida, e nas agências espaciais sobre o que e como fazer diante da inédita situação de uma pessoa que se acreditava morta sozinha em Marte.

Tanto no livro como na adaptação boa e fiel dirigida por Ridley Scott para o cinema, "Perdido em Marte" homenageia a ciência, estimula a curiosidade e mantém a atenção até o fim. Mas, no fim do livro, Mark diz que, caso um montanhista se perca na montanha, as pessoas se organizam para resgatá-lo. Em termos: em situações extremas, em que a vida de outras pessoas pode ser sacrificada, pode-se decidir friamente não fazer o socorro. Caso Mark fosse um alpinista no Everest, é provável que ele não tivesse chance.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Aula magna de cidadania


Livro vai muito além de uma simples história de amor

Imaginava ter a mínima noção sobre a chamada "questão racial", e, ao fim da leitura de "Americanah", a conclusão foi que - sim - minha noção  era mínima. Do alto de suas tranças elaboradas, Chimamanda Ngozi Adichie dá uma aula sobre o tema, falando sobre cultura, culinária, música, política, trabalho, relacionamentos e... cabelos!

A jovem estudante Ifemelu parte de uma Nigéria envolta em tramoias políticas e corrupção para encarar uma bolsa de estudos nos Estados Unidos. Mas deve trabalhar e ganhar dinheiro para custear sua permanência, um desafio que se torna ainda maior por ela não querer abrir mão de suas convicções e raízes culturais. E por rapidamente perceber que, em questões básicas de cidadania, o negro africano é "diferente" do afro-americano, que por sua vez não é igual aos latinos e seus descendentes que convivem nos Estados Unidos.

"Americanah" retrata o período que antecede a primeira eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. A sensação de quase incredulidade dos estrangeiros que, como Ifemelu, acompanham as etapas finais de sua chegada à Casa Branca. A vivência de Chimamanda resultou uma obra tocante e esclarecedora até para quem se dá por informado e bem intencionado.

Como estarão se sentido e o que vão escrever as "Ifemelus" vivendo hoje sob a era Trump? 


domingo, 26 de fevereiro de 2017

Sherlock Holmes


Marcus Vinicius Gasques e Caio Peroni conversam sobre o mais famoso detetive da literatura, o personagem que se tornou maior do que o seu criador.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Sodoma e Gomorra

Quarto volume de "Em busca do tempo perdido"
Sexo passa a ser mais presente na vida do narrador de "Em busca do tempo perdido", e ocupa boa parte do desenvolvimento desse quarto volume da extensa obra de Marcel Proust. E o título "Sodoma e Gomorra" é mais do que uma mera sugestão do conteúdo da narrativa, uma vez que o homossexualismo incorpora-se às preocupações sociais e existenciais do jovem protagonista, alter-ego do autor.

Mais uma vez, Proust divide a narrativa entre os salões aristocráticos de Paris e os cenários bucólicos da cidade litorânea de Balbec. O autor transmite fascínio pelas relações entre os nobres, mas não deixa de destilar uma mordacidade por vezes nada sutil para com as intrigas temperadas com altas doses de esnobismo.

Em um ato de extrema indiscrição, o herói constata o homossexualismo de um integrante da alta sociedade. Mas o tema vai afetá-lo visceralmente quando passa a suspeitar das tendências homossexuais de Albertine, com quem mantém uma amizade que resvala para o romance e permite cogitar um casamento.

Em um dos trechos mais tocantes da obra, o personagem extravasa o doloroso sofrimento pela perda da avó, fortemente associada ao cenário e rotina da cidade litorânea para onde costuma viajar com o propósito de cuidar da saúde frágil. É para essa região também que se desloca praticamente toda a corte de nobres e pretendentes à nobreza, com toda a rede de intrigas de quem está qualificado a frequentar os salões.

"Sodoma e Gomorra" também contempla o caso Dreyfuss, que dividiu a opinião pública na França e mesmo em outras partes do mundo - inclusive o Brasil - no debate sobre se um oficial do exército, de ascendência judaica, teria ou não cometido traição. Igreja, militares e direita de um lado, políticos progressistas, intelectuais - incluindo Proust e Émile Zola - de outro, promoveram uma polêmica que se arrastou por anos, até o oficial acusado ser "perdoado". A inocência de Dreyfus seria reconhecida apenas um século depois dos fatos, em 1995.

Nessa obra extensa - são mais de 600 páginas - Proust destila muita ironia e humor em seu texto rebuscado. Exemplos são a descrição de um prostíbulo de luxo que lembra um pregão de bolsa de valores ou situações como o empenho do gerente do hotel em trinchar pessoalmente um peru para agradar famílias ilustres.

Retrato da sociedade na virada do século 19 para o século 20, o autor relata situações que ressaltam o papel servil das mulheres e as atitudes machistas dos personagens masculinos.