sexta-feira, 19 de maio de 2017

Jack London, autor de vida e obra intensas

Jack London age 9 - crop
Jack London aos 9 anos, com seu cão Rollo, em foto de 1885
Há quem diga que a ideia de viver grandes experiências, fazer longas viagens e conhecer muitos lugares não é essencial para alguém se tornar um bom escritor. Mas Jack London viajou muito, foi de trabalhador infantil a vagabundo viajante clandestino em trens, pirata, marinheiro e presidiário, militante socialista e apoiador da Lei Seca, ele mesmo vítima dos abusos do álcool.

Se essas experiências já não bastassem para inspirar muitas obras, London ainda participou da corrida do ouro no fim do século 19, foi correspondente de guerra no conflito entre a Rússia e o Japão, em 1904, teve dois casamentos. Uma vida tão intensa combinou-se com a inclinação para o estudo e o autoaprendizado e uma grande dose de talento para fazer dele um dos escritores mais importantes dos Estados Unidos. Se não é essencial viver intensamente para escrever, London fez de suas aventuras o ingrediente de uma obra extensa e palpitante. Ao longo dos apenas 40 anos que viveu.

Durante muito tempo sua obra foi reduzida pelos críticos a "livros sobre cachorros", referência a títulos como "O apelo da selva" e "Caninos brancos". Com  adaptações para o cinema, TV e quadrinhos, essas emocionantes obras que falam de lealdade e sobrevivência tornaram London conhecido no mundo inteiro.

Aventuras em situações e ambientes hostis são uma constante nos romances, contos e memórias do autor. Impossível não se sentir na pele de um homem que luta pela sobrevivência, tentando acender fogo no frio extremo do Ártico, sob as vistas de um lobo velho e faminto que o espreita, na narrativa breve "Fazer uma fogueira".

Em seu romance curto "A praga escarlate", já em 1912 London antecipa um gênero hoje muito popular, a ficção científica distópica. Em um futuro então distante, no século 21, um avô, o professor Smith, conta a seus três netos fatos sobre a vida que eles desconhecem, como a epidemia que dizimou a população do planeta.

Quando ele fala em bilhões de habitantes, e as crianças não sabem sequer o que é um milhão, o velho professor pega um punhado de areia na praia e faz a analogia. Pela voz do personagem, London dá uma aula às crianças sobre germes, doenças e epidemias. Elas têm dificuldade de compreender como é possível acreditar em algo que não se vê, como bactérias. Uma dificuldade que muitas pessoas ainda tinham há um século.