On the Road, na estrada com os livros, traz resenhas, comentários, lançamentos, indicações de leitura e audiolivros, além de dicas gerais sobre o fascinante mundo da literatura. E uma pitada de seriados de TV e cultura pop.
domingo, 31 de maio de 2015
Por onde andará Stephen Fry?
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Zeca Baleiro
domingo, 24 de maio de 2015
O sombrio rei de amarelo
A leitura do texto da peça leva as pessoas à loucura |
Uma das piores coisas que podem ocorrer a uma obra de arte é o esquecimento. As editoras podem deixar de investir em novas edições de um título, os lançamentos se sucedem e o livro perde espaço nas estantes mais visíveis das livrarias. Ao longo de décadas, ele desaparece, ou fica limitado a círculos restritos de leitores. Até que um "acaso" o resgata. Foi o que aconteceu com O rei de amarelo, do norte-americano Robert W. Chambers, lançado em 1895 e citado na festejada série de TV True detective.
O livro foi lançado no Brasil há um ano pela Intrínseca, com tradução de Edmundo Barreiros e ótima introdução de Carlos Orsi. O rei de amarelo na verdade é uma peça teatral cuja leitura leva as pessoas à loucura. Qualquer semelhança com o Necromicon, de H. P. Lovecraft não é merca coincidência: o escritor de Providence leu Chambers. Sua influência é reconhecida também por Raymond Chandler a Neil Gaiman, passando pelo onipresente Stephen King. Chambers, por sua vez, toma emprestado vários nomes e termos criados pelo escritor Ambrose Bierce.
O rei de amarelo é um "personagem" dos primeiros contos do livro, tramas distintas mas interligadas ao menos pela citação da obra maldita. As narrativas transitam entre o gótico, o fantástico, o romance e a ficção científica, numa intrigante atmosfera de mistério e viagens oníricas. O primeiro conto envolve um sr. Wilde, que remete diretamente a Oscar Wilde, como um "reparador de reputações".
Já na que pode ser considerada a segunda parte do livro, Chambers inspira-se livremente em seu passado como pintor de quadros, e ambienta suas narrativas em Paris, particularmente no Quartier Latin povoado de estrangeiros estudantes de arte. A vida libertina e amores impossíveis são tema recorrente, com um leve toque de fantasia e a influência da pintura: há momentos em que o autor "pinta" cenas em seus textos.
Esses contos também são interligados, com várias e repetidas referências internas. Em "A rua da primeira bomba", Chambers envolve o leitor na angústia de uma Paris sob cerco do exército da Prússia e no desespero de um personagem que se lança ao front de batalha.
Chambers morreu em 1933, rico e famoso por romances água-com-açúcar dos quais ninguém se lembra mais. Nem fazem falta. Mas a volta de O rei de amarelo para as prateleiras das livrarias é um verdadeiro prêmio para quem aprecia literatura fantástica.
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domingo, 17 de maio de 2015
"Mais nojenta do que um purgante"
O autor gostava de balas e doces. Mas queria beber como os homens |
É um livro em tom de confissão, em que o "poder social" das bebidas alcoólicas e dos ambientes e situações em que elas são consumidas são apresentados e comentados por London, que, curiosamente, afirma insistentemente não gostar das bebidas: "O álcool tinha sido para mim ma coisa assás repugnante - mais nojenta do que um purgante. Até hoje não suporto o gosto."
Mas "a taverna era o lugar da congregação", onde London fazia amigos, arrumava trabalho, afirmava sua masculinidade, era aceito entre homens feitos, alimentava sua sede de aventura. E era ainda apenas um adolescente, que preferia correr secretamente para o quarto com um livro na mão e os bolsos cheios de "balas de canhão", um puxa-puxa que podia durar uma hora.
Ainda criança, poucos anos antes do começo do século 20, Jack London trabalhava em fábricas insalubres, por longas jornadas de até 20 horas e salários minguados. Adolescente, voltou a enfrentar a mesma exploração como carvoeiro em uma empresa de eletricidade, fazendo o trabalho de dois homens por 29 dias seguidos, com um dia de folga por mês.
Em muitos momentos, John Barleycorn era uma fuga. A leitura de Memórias alcoólicas chega a cansar em alguns trechos com a repetição insistente desse nome. London se afasta da bebida por longos períodos, diz poder deixar de beber quando deseja, mas volta até uma fase melancólica de sua vida. Termina defendendo apaixonadamente a proibição do álcool, em discussão nos EUA na época. Isso justificou seu apoio ao direito das mulheres ao voto.
Autodidata, Jack London era dono de uma disciplina de ferro. Quando se determinou a viver de escrever, produzia religiosamente mil palavras por manhã. Escreveu muito, sobre suas aventuras, suas convicções políticas, prisões, sobre John Barleycorn, sobre o medo da morte. Até o dia em que ela levou a melhor.
sábado, 2 de maio de 2015
Cheiro de Goiaba
O aroma dessa goiaba é irresistível |
Publicado em 1982, o livro é a transcrição de longas conversas de Gabriel García Márquez com seu amigo e conterrâneo Plinio Apuleyo Mendoza. O vilarejo natal, a família, a descoberta de suas raízes culturais, uma mescla dos índios da região da costa do Mar das Antilhas com os avós da Galícia e os negros trazidos de Angola.
No ritmo das conversas boêmias que marcaram sua juventude, Márquez lembra das longas tardes lendo poesia sentado no banco de um bonde, quando contava com a companhia dos livros contra a solidão. Fala como tantos autores (e os principais deles) influenciaram sua obra, as inspirações originadas em situações que viveu e até no peso da geografia na criação de personagens.
Pessoas e episódios da vida do autor que inspiraram inesquecíveis personagens de seus contos e romances são lembrados, assim como as dificuldades enfrentadas até sua obra começar a ser reconhecida - após tantas recusas de boas editoras, um caso clássico no mercado editorial. Mendoza registra momentos em que Gabo chorou, um menino de 13 anos sozinho em uma Bogotá muito diferente de sua Aracataca tropical, ou um homem maduro cruzando uma ponte do rio Sena, em Paris, financeiramente quebrado.
Cheiro de Goiaba dedica um capítulo às amizades de Márquez com autores como Grahan Greene e às suas opiniões políticas. Gabo, que foi amigo pessoal do general Omar Torrijos, homem forte do Panamá, do presidente francês François Mitterrand e de Fidel Castro, acaba contando indiscrições, como revelar que o líder cubano "é um leitor voraz, amante e conhecedor muito sério da boa literatura de todos os tempos".
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