sábado, 31 de janeiro de 2015

Stephen King, sobre escrever

O próprio autor faz a locução do livro em 8 horas e 5 minutos

Depois de "Carrie" e "O iluminado", estava meio que rompido com Stephen King desde que insisti em ler "Insônia" até o fim. Livros grandes não me metem medo, mas a trama desse nunca se desenrolava. Mas decidi encarar "On writing: A memoir of the craft" no formato audiolivro, narrado pelo próprio autor. Foi uma ótima surpresa.
O livro é um misto de autobiografia e sugestões para quem pensa em escrever. Vai da infância do autor, com episódios como uma folha de urtiga usada de forma errada, passa pelas leituras e filmes que fizeram sua formação, até o atropelamento que quase o matou, em 1999.
Como era a vida antes da internet e dos blogs? King imprimia seus contos de forma artesanal para vender na escola. Levou tempo para emplacar como escritor. Hoje escreve, religiosamente, 2 mil palavras por dia. Está nas prateleiras de livrarias, no cinema e em séries de TV, como "Sob a redoma". Para chegar lá, recomenda muita leitura e muita escrita. E dedicação: King conta que reescreve seus romances algumas vezes, sempre enxugando o texto. Fico imaginando que tamanho teriam os tijolos se os originais fossem publicados.
Apesar da popularidade do autor, "On writing" ainda não tem tradução para o português. O livro traz um capítulo especial que mostra seu processo de escrita para o conto "1408", transformado em um bom filme, em 2007, com John Cusack e Samuel L. Jackson. A versão inicial da história, com as anotações e emendas feitas pelo escritor, é reproduzida nas páginas impressas de "On writing".
O audiolivro não traz esse capítulo, nem as listas de leitura de Stephen King, que foram atualizadas na edição de dez anos da primeira publicação. Em compensação, sua locução é ótima, divertidíssima em alguns episódios, sem pieguice nos momentos mais dramáticos.
Preciso dizer que eu e Stephen King temos duas coisas em comum: nascemos no mesmo dia e gostamos muito de ler. Quem sabe um dia ainda escrevo ficção como ele.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A espiã que me tirava do frio

Espiã, bonita e ainda vai para o espaço. Não havia como resistir

Cabelos pretos, olhos azuis, corpo atlético, ágil e perigosa, com suas habilidades de luta e uma pistola com cabo de madrepérola sempre à mão. Se a combinação já não fosse suficiente, as aventuras da jornalista/espiã Brigitte Montfort eram irresistíveis por seu tempero de um erotismo sempre apenas sugerido. Nunca de fato acontecia nada (nem podia, em plena ditadura). Mas a sugestão era o bastante para um adolescente imberbe.
Não sei quantos livros da coleção ZZ7 li. Especialmente durante as férias, trocava um pelo outro em uma banquinha improvisada na feira, a cada semana. Era empolgante acompanhar como a sensual espiã da CIA sempre vencia seus inimigos com uma cutelada certeira.
Mais tarde, quando eu e Brigitte já havíamos terminado nosso caso, fiquei sabendo que ela fora criada pelo espanhol Antonio Vera Ramirez, de Barcelona, que assinava com o pomposo nome de Lou Carrigan. E era "neta" do jornalista brasileiro David Nasser, que escrevia as aventuras de Giselle Montfort para o "Diário da Noite". Giselle, a "espiã nua que abalou Paris", claro, era mãe de Brigitte.
Mais bacana foi descobrir que as capas dos livros de bolso eram do desenhista e ilustrador brasileiro Benício, autor, entre outras obras, do cartaz do filme "Dona flor e seus dois maridos". Se as descrições da espiã no texto já eram provocantes, as capas de Benício eram matadoras.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Um projeto de leitura

O primeiro do ano, uma biografia

Gosto de alternar minhas leituras. Um clássico, uma ficção científica, um título de literatura brasileira, uma HQ, história, fantasia, um autor da América Latina, horror, um "livro cabeça", divulgação científica, uma biografia, e por aí vai, até recomeçar o "ciclo". Para aproveitar o tempo no trânsito e forçar a prática de inglês, os audiobooks.
Nunca fiz antes um projeto de leitura para o ano. É um prazer terminar um livro e passear diante das estantes para escolher o próximo. Mas fazer um planejamento pode ser que ajude a render mais. E ainda tem os lançamentos que vêm por aí, aquelas leituras irresistíveis que furam a fila. Espero que dê tempo!
A vida de H.P.Lovecraft - S.T. Joshi
A balada do velho marinheiro - S.T.Coleridge
Crash - J.G.Ballard
O caminho de Guermantes - Marcel Proust
O festim dos corvos - George R.R.Martin
Cheiro de goiaba - Gabriel Garcia Marquez
Detalhes de um pôr-do-sol - Vladimir Nabokov
O perseguidor - Julio Cortázar
Suicídios exemplares - Enrique Vila-Matas
O livro das feras - Patricia Highsmith
Os cães ladram - Truman Capote
Criação sem pistolão - Carlos Domingos
O som e a fúria - William Faulkner
O maior espetáculo da Terra - Richard Dawkins
O guia do mochileiro das galáxias - Douglas Adans
Design para quem não é designer - Robin Williams
Mrs. Dalloway - Virginia Woolf
Antologia da literatura fantástica - Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges, Silvana Ocampo
Senso crítico - David W. Carraher
Buracos negros, universos bebês - Stephen Hawking
Água viva - Clarice Lispector
Detalhes de um pôr-do-sol - Vladimir Nabokov
O ano da morte de Ricardo Reis - José Saramago
O clube do Bangue-bangue - Greg Marinovich e João Silva
City lights - Jack Kerouac
Em casa, uma breve história da vida doméstica - Bill Bryson



sábado, 10 de janeiro de 2015

Tsundoku

Me aguardem, um dia leio todos

Descobri o mundo dos podcasts há uns cinco anos e, desde então, eles ocuparam o som do carro, as corridas, os momentos de trabalho braçal em casa. Literatura, idiomas, cinema, ciência, contos, audiolivros entraram no radar. E os áudios se referenciam, levam a outras gravações. E lá vêm mais dicas. Hoje aguardo com expectativa o momento em que os participantes do Anticast e do Braincast dão suas sugestões culturais, especialmente se envolvem livros.

Livros... Tem sido estimulante descobrir a quantidade de jovens discutindo literatura, divulgando livros, publicando regularmente programas para ver e ouvir: Homo Literatus, que produz o podcast 30 Minutos, o Livrocast, do Lokotopia, os vídeos do Literatorura, Tatiana Feltrin, Mell Ferraz e Pam Gonçalves, só para citar alguns.

Há várias expressões e palavras curiosos, como chick lit, os "romances leves" voltados para mulheres "modernas e independentes; o YA (young adults), títulos mais "maduros" para jovens; o book haul, em que o blogger apresenta os livros que planeja ler em determinado período; o TBR (To Be Read) Jar Book, cuja tradução seria algo como "jarro de desejo das leituras"; e o "unboxing", filmagem comentada de um produto sendo desembalado, no caso, livros.

E aí ainda me aparece o Maratube, uma jornada literária prevista para os dias 18 a 31 deste mês. Coisa "simples": ler sete livros no período, complementando com alguns desafios. E tem também a Maratona Literária de Verão, um período maior, mas com mais livros. Saudades das férias escolares...

Vou continuar ouvindo meus podcasts e tentar chegar à meta de três livros por mês no ano. E me conter para não ampliar o tsundoku. Pois é, os japoneses tem até uma palavra para exprimir o impulso de comprar e acumular livros não lidos. Mais uma expressão nesse dialeto todo particular compartilhado pela inquieta tribo da leitura.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Fiel retrato da aventura humana

O livro foi lançado em 1997, mas a leitura se mantém atual


Armas, germes e aço - o destino das sociedades humanas estava na minha lista de leitura há tempos, e não decepcionou. Se já vinha com a chancela dos prêmios Pulitzer e Aventis, da Real Sociedade de Ciências de Londres, como melhor livro de divulgação científica, o trabalho de Jared Diamond, professor de Geografia da Universidade da Califórnia, é um retrato fascinante da história das sociedades humanas nos últimos milhares de anos.


Por que a Ásia e a Europa colonizaram a Oceania e as Américas e não ocorreu o contrário? A domesticação e a extinção de animais, o uso de terras férteis e desertos, o domínio da metalurgia, a transmissão de doenças e até a disposição geográfica dos continentes são analisados pelo autor para compreender o que levou à dominação de alguns grupos por outros.

Não escrevo mais para não correr o risco de um spoiler. Sim, porque há muitas constatações e conclusões surpreendentes. Tudo numa linguagem muito clara. O dom de um professor que foi a campo e sabe transmitir seu conhecimento.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Tiro atômico no pé

Jake Green, à frente, é o herói da série que consegue se envolver com essas duas moças - e ainda mais uma que some da trama sem explicação

Aproveitei o recesso de fim de ano para conferir Jericho, série exibida entre o fim de 2006 e o começo de 2008. Virou notícia na ocasião o fato de a série ter sido cancelada logo na primeira temporada, e voltado sob enorme pressão dos fãs sobre a CBS. A segunda - uma minitemporada de sete episódios - garantiu várias respostas para a trama, mas a série foi mesmo cancelada.

Conferi os 29 episódios e minha sensação foi a de uma ideia muito boa mal aproveitada. A trama começa bem, com uma largada dramática, mas logo se perde em romances mal resolvidos, discursos patrióticos escritos por estagiários em política, ações sem sentido, personagens que ganham força e desaparecem sem explicação. Sem falar na péssima interpretação de alguns atores.

Tive a impressão, em vários momentos, de estar vendo situações espelhadas em Lost, uma febre quando Jericho foi lançada (2006): um grupo de sobreviventes bonzinhos tendo de lidar com os "outros", mauzinhos. Maniqueísmo barato.

Vi Jericho no Netflix, onde há outros seriados que valem muito mais o seu tempo.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Viva nós

O autor e sua grande obra

Vez ou outra me dou conta de estar em falta com algum autor ou obra importante. Aconteceu em julho, por ocasião da morte de João Ubaldo Ribeiro. Apesar de ter algumas obras suas na estante e ter lido várias crônicas em jornais, ainda não havia lido um livro seu. Viva o povo brasileiro foi eleito para corrigir essa falta.

A minha foi uma viagem no tempo de 30 anos, pois o livro foi publicado em 1984. Já a obra de João Ubaldo cobre mais de 400 anos da história do Brasil com seus personagens "fictícios" que você a cada página vai reconhecendo nas esquinas ou noticiários dos jornais e TV.

Viva o povo brasileiro faz uso de uma sutil ironia para expor como era o relacionamento entre proprietários de terras e escravos, políticos e empresários, polícia e cidadãos. Eu disse era? Ao fim da leitura, a sensação que fica é de que pouco ou quase nada mudou no país. E é possível entender um pouco melhor o que somos e porque somos como somos, e as razões do "debate" que começou durante a campanha eleitoral e continua nas chamadas redes sociais.  

Encerrei as leituras de 2014 com chave de ouro com Viva o povo brasileiro. São quase 700 páginas, mas sua leitura deveria ser obrigatória, ao menos como reflexão, antes de fazer ou postar um comentário sobre o povo brasileiro.