Outubro: História da Revolução Russa by China Miéville
My rating: 5 of 5 stars
O que leva um escritor de ficção-científica à aventura de escrever sobre a maior revolução socialista da história? É fácil entender quando se conhece um pouco mais sobre China Miéville. O inglês não é apenas um criativo autor de ficção weird, ou bizarra, mas também professor, acadêmico, político e militante de esquerda.
A partir de extensa documentação e bibliografia, em "Outubro: História da Revolução Russa" Miéville repassa os episódios a partir de abril de 1917, quando o czar Nicolau II é levado a renunciar diante da revolta de vários setores da sociedade - e seu irmão Miguel recusa-se a assumir em seu lugar. Seguem-se os capítulos que levam os nomes dos meses até outubro, quando os bolcheviques finalmente assumem o poder na Rússia.
Como em "Dez dias que abalaram o mundo", de John Reed, o autor relata o que acontece nas ruas e no interior de salões esfumaçados. Formam-se comitês de trabalhadores, soldados e representantes de diferentes etnias e de regiões remotas da Rússia. É um período absolutamente conturbado, em que o poder é disputado por várias correntes políticas e ao menos uma importante tentativa de contrarrevolução. No lado externo , o país sofre e perde centenas de milhares de soldados nas frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial.
As semanas e meses se arrastam, com passeatas e manifestações mais ou menos violentas, encontros, reuniões, assembleias e conspirações. A violência política, a criminalidade e a fome avançam. Mas há registros pitorescos, como o relato sobre Lenin disfarçado com peruca e roupas de bêbado para evitar ser preso - ou pior - nas mãos de inimigos políticos, o poderoso cruzador Aurora impossibilitado de disparar em um momento crítico na revolução por falta de munição ou ainda uma decisiva lanterna vermelha que ninguém consegue encontrar.
"Outubro: História da Revolução Russa" resume um período fascinante da história. Como em "Dez dias que abalaram o mundo", de John Reed, muito se passa no interior de grandes salas e reuniões intermináveis, envolvendo muitos personagens. Longos trechos do relato se arrastam de um comício para uma assembleia e de lá para o encontro de um comitê. Mas não dá para parar de ler, ainda que o desfecho seja conhecido há um século.
Ajuda muito no fluxo da leitura o livro trazer ainda uma breve biografia de homens e mulheres que desempenharam diferentes papéis na disputa pelo poder, fotos de alguns dos protagonistas da revolução e extensa bibliografia para quem quiser se aprofundar no assunto.
Obra indispensável para conhecer esse período da história.
Em tempo: não consegui achar o livro impresso em várias livrarias (não cheguei a procurar em sebos). Mas a obra publicada pela editora Boitempo, com tradução de Heci Regina Candiani, está disponível no formato eletrônico.
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