Edição da Penguin faz referência ao filme que não chegou ao Brasil |
Jack Kerouac teve de esperar sete anos até que sua maior obra, On the road, fosse publicada, o que foi feito em 1957. Apenas três anos depois, o “rei dos beatniks” não era um autor realizado com o sucesso de seu livro, mas um homem de menos de 40 anos com a saúde destruída pelo alcoolismo e espírito atormentado. Foi nessa condição que aceitou o convite do amigo e poeta beat Lawrence Ferlinghetti para um período de descanso e retiro em sua cabana em Big Sur, área de beleza selvagem na costa da Califórnia, ao sul de São Francisco.
Da experiência resultou o livro considerado mais intimista de Kerouac, Big Sur. Escrito com o estilo que o autor chamava de prosa espontânea, que lembra a técnica do fluxo de consciência, narrativa e reflexões fluem sem muita elaboração, em meio a onomatopéias e pontuação caótica.
Big Sur é também um relato amargo e triste. Jack Duluoz (alter ego de Kerouac) passa pela cabana de Ferlinghetti (Lorenzo Monsanto no livro) em três ocasiões. A primeira, quando fica sozinho, resulta no terço da obra em que a força da natureza e a paisagem impressionante da região são marcantes.
De volta a São Francisco, Duluoz/Kerouac recebe uma notícia que o deixa arrasado. O trecho em que fala sobre a dor de sua perda é lancinante. Reencontra seu grande parceiro de estrada, Neal Cassady, que havia sido Dean Moriarty em On the road e é apresentado como Cody Pomeray em Big Sur. Ressurgem também outros amigos, velhos e novos amores: Carolyn Cassady (como Evelyn), Gary Snyder (Jarry Wagner), Philip Whalen (Ben Fagan), Michael McClure (Pat McLear), Lenore Kandel (Romana Swartz) e Robert La Vigne (Robert Browning).
Vários momentos “On the road” se sucedem, e a paixão pela liberdade de um carro na estrada é celebrada com manobras arrojadas e muita velocidade. E o atormentado autor bebe muito, bebidas de baixa qualidade em grandes quantidades. E antigas paixões são reacesas, e há sexo, e um porre contínuo. A decadência física de Duluoz/Kerouac é angustiante, com crises de delirium tremens e paranóia.
A LP&M oferece edição impressa e eletrônica |
Por que ler um livro assim? Porque Kerouac é visceral, sua prosa é ágil, Big Sur é um lugar fascinante e Ferlinghetti foi um dos fundadores da livraria e editora City Lights Books, em São Francisco, responsável pelo impulso editorial da Geração Beat. O autor está se consumindo, mas escreve um livro emocionante e vertiginoso.
Big Sur foi lançado em 1962, e tem edição no Brasil pela L&PM, com tradução de Guilherme da Silva Braga e prefácio de Aram Saroyan. O livro é oferecido na edição impressa, com 192 páginas (R$ 17,90), e ebook (R$ 12,00).
A obra ganhou uma versão para o cinema em 2013. O filme foi recebido com alguma indiferença nos EUA, e não foi lançado no Brasil sequer em DVD. Mate a vontade com o trailer:
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