sábado, 21 de março de 2015

Big Sur, a angústia de Jack Kerouac

Edição da Penguin faz referência ao filme que não chegou ao Brasil

Jack Kerouac teve de esperar sete anos até que sua maior obra, On the road, fosse publicada, o que foi feito em 1957. Apenas três anos depois, o “rei dos beatniks” não era um autor realizado com o sucesso de seu livro, mas um homem de menos de 40 anos com a saúde destruída pelo alcoolismo e espírito atormentado. Foi nessa condição que aceitou o convite do amigo e poeta beat Lawrence Ferlinghetti para um período de descanso e retiro em sua cabana em Big Sur, área de beleza selvagem na costa da Califórnia, ao sul de São Francisco.

Da experiência resultou o livro considerado mais intimista de Kerouac, Big Sur. Escrito com o estilo que o autor chamava de prosa espontânea, que lembra a técnica do fluxo de consciência, narrativa e reflexões fluem sem muita elaboração, em meio a onomatopéias e pontuação caótica.

Big Sur é também um relato amargo e triste. Jack Duluoz (alter ego de Kerouac) passa pela cabana de Ferlinghetti (Lorenzo Monsanto no livro) em três ocasiões. A primeira, quando fica sozinho, resulta no terço da obra em que a força da natureza e a paisagem impressionante da região são marcantes.

De volta a São Francisco, Duluoz/Kerouac recebe uma notícia que o deixa arrasado. O trecho em que fala sobre a dor de sua perda é lancinante. Reencontra seu grande parceiro de estrada, Neal Cassady, que havia sido Dean Moriarty em On the road e é apresentado como Cody Pomeray em Big Sur. Ressurgem também outros amigos, velhos e novos amores: Carolyn Cassady (como Evelyn), Gary Snyder (Jarry Wagner), Philip Whalen (Ben Fagan), Michael McClure (Pat McLear), Lenore Kandel (Romana Swartz) e Robert La Vigne (Robert Browning).

Vários momentos “On the road” se sucedem, e a paixão pela liberdade de um carro na estrada é celebrada com manobras arrojadas e muita velocidade. E o atormentado autor bebe muito, bebidas de baixa qualidade em grandes quantidades. E antigas paixões são reacesas, e há sexo, e um porre contínuo. A decadência física de Duluoz/Kerouac é angustiante, com crises de delirium tremens e paranóia.

A LP&M oferece edição impressa e eletrônica

Por que ler um livro assim? Porque Kerouac é visceral, sua prosa é ágil, Big Sur é um lugar fascinante e Ferlinghetti foi um dos fundadores da livraria e editora City Lights Books, em São Francisco, responsável pelo impulso editorial da Geração Beat. O autor está se consumindo, mas escreve um livro emocionante e vertiginoso.

Big Sur foi lançado em 1962, e tem edição no Brasil pela L&PM, com tradução de Guilherme da Silva Braga e prefácio de Aram Saroyan. O livro é oferecido na edição impressa, com 192 páginas (R$ 17,90), e ebook (R$ 12,00).

A obra ganhou uma versão para o cinema em 2013. O filme foi recebido com alguma indiferença nos EUA, e não foi lançado no Brasil sequer em DVD. Mate a vontade com o trailer:



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