quarta-feira, 4 de março de 2015

Uma história da leitura, história de uma paixão

É muito bom, mas se pegar emprestado, devolva

Como você prefere ler? Em um ambiente silencioso? Séculos antes da invenção da prensa móvel, livros eram muito raros e caros, e a maior parte da população do planeta era analfabeta. Mas quem lia, mil anos atrás, lia em voz alta. Pois então imagine o vozerio em um lugar como a Biblioteca de Alexandria. Milhares de papiros, pergaminhos, gente culta circulando. E lendo em voz alta!

Esse é apenas um dos momentos saborosos de Uma história da leitura, livro do argentino Alberto Manguel, lançado no Brasil pela Companhia das Letras. Resultado de um trabalho de sete anos, a obra relata a evolução física do livro, retrata a formação dos leitores ao longo da história, a relação das pessoas com o objeto, hábitos de leitura e a reação de governantes, empresários e instituições como a Igreja Católica.

A leitura das histórias de Alberto Manguel fez eu me sentir uma pessoa "normal". O autor, por exemplo, fala de seus critérios para organizar os livros na estante. É um leitor como nós. E fala de outros leitores, mais e menos conhecidos: "... devemos ler somente livros que nos mordam e piquem. Se o livro que estamos lendo não nos sacode e acorda como um golpe no crânio, por que nos damos o trabalho de lê-lo?", escreveu Franz Kafka em uma carta para um amigo.

Uma história da leitura tem 408 páginas e é ilustrado com fotos e reproduções de gravuras que documentam a história dos livros, de leitores e do hábito de leitura. Infelizmente, está esgotado. Mas vale investir em um exemplar usado ou mesmo de biblioteca. Mas, se pegar emprestado, devolva. Lembre-se da advertência na biblioteca do mosteiro de São Pedro, em Barcelona, transcrita em Uma história da leitura:

"Para aquele que rouba ou toma emprestado e não devolve um livro de seu dono, que o livro se transforme em serpente em suas mãos e o envenene. Que seja atingido por paralisia e todos os seus membros murchem. Que  definhe de dor, chorando alto por clemência, e que não haja descanso em sua agonia até que mergulhe na desintegração. Que as traças corroam suas entranhas como sinal do Verme que não morreu. E quando finalmente for ao julgamento final, que as chamas do inferno o consumam para sempre."

Algum monge ficou muito irado com a perda de um livro não devolvido...

Nenhum comentário:

Postar um comentário