segunda-feira, 30 de abril de 2018

"Aniquilação": entre livros e filme, fique com ambos


A versão para o cinema explica mais, e conta com sequências assustadoras

Convergência dos dois primeiros livros, "Aniquilação" e "Autoridade", a trama de "Aceitação" envolve mais personagens e se passa em várias lugares. O problema nesse livro que encerra a trilogia é que Jeff Vandermeer dá muitas voltas, perde muito tempo na descrição de sequências que pouco acrescentam à história.

O leitor é convidado a testemunhar o desfecho do mistério através de um texto sinestésico, em que o autor vai nos conduzindo nas mesmas situações desconcertantes que envolvem os personagens. Nós, leitores, sabemos tanto quanto os protagonistas principais, eventualmente alguns detalhes a menos. Como eles, não somos poupados da rede perturbadora formada por fenômenos biológicos, genéticos, seres improváveis, alucinações e mesmo espionagem presente nos três livros.

Apesar das quase mil páginas da trilogia, no entanto, o leitor não vai escapar de uma sensação de estranheza após sua jornada através da Área X. Como os personagens que saem de lá, os leitores também vão deixar para trás muitas perguntas sem resposta.

O filme "Aniquilação" é muito bom, pena que reduza a menos de duas horas a sucessão de episódios descritos nos livros. Poderia facilmente justificar a produção de uma série de televisão, e ser tudo aquilo que "Lost" perdeu a chance de concretizar. Difícil será não se impressionar com uma sequência assustadora que não é descrita nos livros.


Um detalhe que pode passar despercebido por muita gente é o livro que a bióloga interpretada por Natalie Portman aparece lendo junto ao marido. Em "A vida imortal de Henrietta Lacks", como foi lançado em português pela Companhia das Letras, Rebecca Skloot relata a vida de Loretta Pleasant. Descendente de escravos, em 1950, aos 30 anos de idade, descobriu um câncer no útero, que logo se espalhou pelo corpo.

Loretta morreu no ano seguinte no Hospital Johns Hopkins onde, sem seu conhecimento ou de sua família, teve uma amostra do colo do útero extraída pela equipe de George Gey, chefe da cultura de tecidos do hospital. Com a amostra, Gey demonstrou que as células cancerígenas continuavam se multiplicando, tornando-se na prática imortais.

Não se sabe em que momento Loretta passou a ser chamada de Loretta, mas o certo apurado pela autora do livro é que sua família não recebeu qualquer satisfação ou recompensa moral ou financeira por conta do que passou a ser conhecido como a linhagem HeLa de células. Uma linha de pesquisa determinante para, entre outros avanços da bilionária indústria farmacêutica, tratamentos contra o câncer e as vacinas contra poliomielite e HPV.

Em uma das primeiras cenas do filme a bióloga está dando uma aula em que demonstra a reprodução de células cancerígenas. A versão das telas revela mais, enquanto os livros fazem muito mistério. As respostas podem estar na genética, e não necessariamente da maneira mais favorável para a humanidade.



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