sexta-feira, 3 de junho de 2016

Terror real

Mergulho em águas subterrâneas, em busca da caverna mais profunda

Muita gente não gosta do escuro. A ideia de estar em lugares apertados é desconfortável para outros. Acrescente o fato de que sua respiração depende de um aparelho, um protótipo que pode falhar. Junte tudo à realidade de estar nadando em uma área alagada, sob a terra, sem saber ao certo o que vai encontrar pela frente. Uma saída ou um salão fechado.

Apavorante? Essa é a realidade enfrentada por exploradores de cavernas, especialmente os que elegem as supercavernas como objetivo de suas pesquisas. Ou conquistas. É também o tema de Blind descent - The quest to discover the deepest place on Earth, livro que beira o incrível de James M. Tabor, escritor e também praticamente de aventuras extremas.

Tabor coloca o leitor em cada situação que um espeleólogo - explorador de caverna - tem de enfrentar: a escuridão permanente, descidas por paredões sob água fria, mergulhos em canais subterrâneos, arrastar-se por túneis apertados. A descrição é precisa, pois o autor viveu várias dessas situações. Me senti tenso com frequência durante a leitura, talvez porque durante alguns anos vivi a emoção de passar horas dentro de cavernas no vale do Ribeira (SP).

Mas nunca cheguei perto dos desafios enfrentados pelos personagens de Blind descent, cuja meta é atingir o ponto mais profundo do planeta Terra. Tabor descreve uma história similar à de Scott e Amundsen, na corrida para quem chegava primeiro ao Pólo Sul do planeta, no começo do século passado. No livro, em lugar de um inglês contra um norueguês, é uma equipe norte-americana contra ucranianos. Uns exploram a caverna Cheve, no México, outros Krubera, na Geórgia.

A narrativa cobre um longo período, até o desfecho, em 2004. E é eletrizante. Pena que nenhuma editora brasileira tenha descoberto o potencial dessa aventura, disponível para ler - ou ouvir - em inglês.

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