segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A promessa

Volume traz uma novela e um conto do autor

É muito legal ser surpreendido por uma obra ou autor do qual nunca se ouviu falar. É o caso dos títulos de agosto do serviço de assinatura Tag Livros. Títulos porque a novela A Promessa e o conto A Pane foram reunidos em um só volume. 

As obras foram escritas por Friedrich Dürrenmatt, autor suíço que viveu de 1921 a 1990. Dürrenmatt é mais conhecido no Brasil como dramaturgo, autor de A visita da velha senhora, de 1956. A peça foi encenada no Brasil em várias montagens, a última delas com Denise Fraga. Foi também um dos últimos trabalhos de Tônia Carrero.

No mesmo ano de A visita da velha senhora, o autor escreveu A Pane, e em 1958, A PromessaDürrenmatt questiona a ideia do detetive infalível e certeiro em suas conclusões lógicas. debate a literatura policial dentro da trama de uma história que tem todos os elementos de um romance do gênero, fazendo metaliteratura.


Faz isso em A Promessa por meio de um escritor de romances policiais cujo nome não ficamos sabendo. O personagem narra em primeira pessoa seu encontro com um policial crítico de como sua atividade é retratada pela ficção.

A Promessa gira em torno da história do investigador Matthäi, que promete à mãe de uma menina assassinada punir o responsável pelo crime. Mesmo quando um suspeito é identificado, o velho policial segue com sua investigação obsessiva. 

É um romance de rápida leitura, não convencional para quem está habituado aos policiais mais conhecidos. Causa estranheza, por exemplo, o agressivo diálogo de adultos com uma criança, lembrando que a obra foi escrita há seis décadas. 

Questões como a justiça popular, violência policial e a própria infalibilidade da justiça estão presentes. E o autor inova ao tocar no tema do assassino serial, 60 anos atrás.


Dürrenmatt tem um texto seco, direto, enxuto. E uma ironia amarga. É a essência de A Pane, onde o autor volta a brincar com a soluções fáceis para os textos de ficção. Quando o vendedor Alfredo Traps vê-se retido em um vilarejo por conta de um defeito no carro, hospeda-se em uma grande casa. Lá é convidado para participar de um jantar muito singular, que vai simular um julgamento. O réu? Ele mesmo.

A sequência lembra o banquete de A festa de Babette, conto de Karen Blixen que virou filme premiado com o Oscar. O desfecho, bem, o desfecho não decepcionaria Edgar Allan Poe.






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