domingo, 16 de fevereiro de 2020

Medo ImortalMedo Imortal by Afonso Arinos
My rating: 5 of 5 stars

O encontro entre o gótico, o folclore e a cultura popular do Brasil na segunda metade do século 19 na visão de 12 escritores da primeira geração da Academia Brasileira de Letras. Tão talentosos quanto conservadores: barraram a entrada de Júlia Lopes de Almeida, cujo lugar foi garantido nessa coletânea por iniciativa de seu organizador, Romeu Martins.

Jornalista e escritor catarinense, Romeu propôs essa obra à editora DarkSide, e promoveu um verdadeiro resgate de contos e poemas esquecidos ou muito pouco conhecidos. Boa parte das narrativas vale mais pela curiosidade literária, outros resvalam pela pieguice, e alguns são confusos. Mas há muitos achados. É muito curioso o resultado da influência da literatura de fantasia e terror da Europa e Estados Unidos sobre contos e lendas do sertão brasileiro, onde se passam vários dos relatos.

Há de tudo: médicos que enlouquecem, sadismo, pedofilia, paixões trágicas, vício em drogas, relatos de desigualdade social tratados como histórias de horror - o que de fato são. Uma sugestão de vampirismo e outra de ficção científica completam o cardápio. Os relatos em que o sobrenatural se manifesta têm um saboroso viés de cultura cabocla.

Cada escritor é precedido de uma breve biografia e citações de trabalhos acadêmicos que contextualizam as obras e suas influências do exterior. E há relatos criativos que mais tarde seriam vistos em obras estrangeiras.

Machado de Assis abre a obra com quatro contos, mas senti falta da crônica "O autor de si mesmo", em que o escritor trata de um caso criminal envolvendo uma criança. Lamentavelmente, o horror muita vezes é real.

"Medo imortal" é um achado que merece ser lido tanto por quem gosta desse gênero literário como por admiradores da literatura brasileira. No mínimo, como desagravo a Júlia Lopes de Almeida. Autora, aliás, de alguns dos melhores contos dessa coletânea.


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